24 outubro 2007

CRESCIMENTO E MEIO AMBIENTE

Algum tempo atrás, mais precisamente no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de maio, li matérias em vários jornais locais, nacionais e internacionais. Assisti ainda, a alguns bons documentários, e terminei o dia pensando de que forma toda essa informação poderia ajudar o cidadão comum a entender melhor o que realmente está acontecendo. De que forma as mudanças no meio ambiente afetam sua vida e de que forma sua vida afeta o meio ambiente. Afinal, nos deparamos com duas visões diametralmente opostas em relação ao meio ambiente. A primeira, mais recorrente, dá um prognóstico tão cataclísmico que nos induz, por absoluta necessidade de evitar o pânico e o desespero, a ignorá-la e naturalmente optar pela outra visão. A segunda, procura amenizar um pouco a situação atual e ainda oferece a benesse de que a tecnologia vai resolver todos os problemas. Infelizmente, no mundo moderno onde você acaba conhecendo um pouco de tudo, sem conhecer realmente nada de verdade – um generalista – , as abordagens são simplistas e tendem a evidenciar apenas os dois extremos de uma mesma idéia. Ou seja, ou é preto ou é branco. Nuances de cinza são peremptoriamente ignoradas.
Não exito um instante sequer em afirmar que a questão ambiental é o assunto mais complexo e de maior importância que a humanidade já se defrontou. Ele afeta à todas as áreas da existência humana e portanto demanda conhecimento holístico e sistêmico. Imagine conseguir consenso sobre um tema vital à nossa existência reunindo numa mesma mesa de negociação advogados, engenheiros, economistas, administradores, médicos, biólogos, zoólogos, botânicos, políticos, brasileiros, argentinos, chineses, líbios, franceses, canadenses, patrões, empregados etc. São milhões de visões diferentes, com interesses diferentes (muitas vezes divergentes) e com graus de motivação diferentes. Dá para imaginar a discussão?
A questão ambiental começou a ser discutida publicamente quando grupos isolados de ecologistas apareceram na mídia defendendo animais em extinção, matas e rios aqui e ali. Eram idealistas e românticos que colocavam sua própria integridade física em risco, mas conseguiam angariar simpatia e apoio por onde passassem. Esses grupos se organizaram, cresceram e acabaram atingindo proporções econômicas, em alguns casos, respeitáveis.
O homem, e sua volúpia de desejos incontroláveis, eram os grandes vilões que faziam o que fosse preciso para conseguir o que queriam, extinguindo espécies e destruindo tudo a sua volta, sem um pingo de remorso.
Essa idéia, apoiada pela máxima de crescer a qualquer custo, tinha como seu oposto a visão, então vigente, de que era mais importante a preservação de determinado rio e seu eco-sistema, do que a sobrevivência das populações ribeirinhas. O mundo seria lindo, limpo e sem o homem para destruí-lo. Poderíamos, segundo essa turma, morar na lua e admirar à distância a beleza da terra.
Mas foi preciso que o idealismo e até mesmo o romantismo desses pioneiros da questão ambiental, plantasse a semente do que hoje é uma das questões mais complexas da humanidade e que afeta sua própria existência.
O homem não é estranho ao meio ambiente, ele é parte do mesmo. A questão ambiental não deve ser encarada como uma restrição à atividade econômica e sim como um componente de continuidade dessa atividade - de sustentabilidade de nossa civilização. Afinal, em ambiente em processo de degradação a atividade econômica é efetivamente refreada. A sustentabilidade ambiental é por conseguinte a própria sustentabilidade da atividade econômica.
A terra está em processo de aquecimento, as geleiras derretendo, o nível do mar subindo, o ar e a água a cada dia mais poluídos, as florestas estão sendo devastadas, as matas queimadas etc. Como tudo isso está acontecendo e como estou contribuindo para esse aparente apocalipse? A resposta para essa pergunta é simples e perturbadora. Simples porque não exige nenhuma qualificação especial para entender e perturbadora porque ela está inserida na essência do nosso modelo de produção e por conseguinte de existência. O consumo, que mantém toda a engrenagem do modelo capitalista funcionando é a origem da degradação ambiental. Quanto mais você consome, não importa o quê, mais é retirado (do estado limpo) e mais é despejado (em estado poluente) no meio ambiente. Para onde foi o último pneu que você trocou, e as baterias do seu celular? Você já visitou um aterro sanitário, um lixão? Devia.
Todos sabemos que a melhor prática de manutenção, tanto em nossas casa quanto em nosso escritórios, é o de que: “se não sujarmos, não precisamos limpar”. Certa ocasião, fiz uma reunião com os funcionários da empresa onde trabalhava , era uma grande loja de departamentos (a maior da época), e ao falarmos de salários e comissões expliquei que o bolo salarial era um só e que a necessidade de pessoas catando lixo pela empresa que os próprios empregados jogavam em lugares inadequados, ou mesmo de fiscais para vigiar atos indevidos, corroíam as possibilidades de melhores ganhos para todos. Atitudes responsáveis beneficiam a comunidade como um todo. Sistemas burocráticos, têm como objetivo evitar ou dificultar falhas/fraudes nos processos de uma maneira geral. Isso é desperdício, isso é consumo desnecessário. E pode ser combatido com mudanças de atitudes. Nossa sociedade tem que dar um basta na “lei do morro” - não ví nada, não sei de nada, não me envolvam. Você ensina seus filhos a “se dar bem” ou a “ser do bem”?
O homem é cheio de surpresas e agora busca os biodegradáveis, a coleta seletiva de lixo, a reciclagem, re-uso e usos inteligentes. Cria leis ambientais e projetos de educação ambiental. O que você faz quando vê uma mensagem no hotel pedindo para você economizar a água? Eu hein! Estou pagando e ainda tenho que me preocupar em economizar água para esses caras? Você lava calçada com a mangueira jorrando água para todo lado? Ou escovas os dentes com a torneira aberta? Não podemos simplesmente parar de consumir. Mas, o desperdício no Brasil ainda é um problema de origem cultural com efeitos nefastos em nosso bem-estar. Em nosso cotidiano, sem perceber, estamos desperdiçando o que poderia fazer a diferença em um futuro próximo. Simples mudanças de hábitos, são atitudes que podemos tomar imediatamente sem comprometer nosso estilo de vida. Não precisamos ficar esperando por programas mirabolantes do governo ou de quem quer que seja, para começarmos a mudar o ambiente em que nossos filhos vão viver. Lembrem-se que a água já foi um bem gratuito.

21 outubro 2007

COPOM x Crescimento

A semana foi tomada pela já habitual discussão mensal sobre a decisão do COPOM, manteriam ou aumentariam a CELIC?
De um lado os defensores da redução dos juros em prol do crescimento econômico. De outro, os defensores de uma política mais cautelosa pela estabilidade de preços.
Os economistas, não raro, se acham revestidos de um conhecimento que lhes dá ares superiores e muitas vezes misteriosos. Dominadores e doutos da Ciência Econômica têm todos uma única opinião consensual – entre si, não concordam em nada!
O COPOM em última instância está atento às metas de inflação e, portanto buscando mantê-la dentro do esperado. E aí já começa a discussão. Tomam-se decisões exclusivamente em relação a política monetária e mais especificamente em relação às metas de inflação. O “foco” do BC acaba por desconsiderar outras necessidades do país. Imagine um médico que diz ser responsável apenas pelo controle da febre, sem tomar conhecimento do estado geral do paciente. Se ele estiver em processo de inanição ou aneroxia, isso não importa a esse médico, não é função dele... Assim é o BC, não tem maiores preocupações com o Brasil como um todo. Em crescente pujança ou aneróxico? Não importa isso não é com ele.
De qualquer forma, o ponto central da decisão do COPOM, a eventualidade de uma inflação de demanda nem de longe é unanimidade entre os economistas. Acreditam alguns que o Brasil pode crescer até 4,5% sem qualquer aceleração da inflação. Afinal o IPCA de setembro de 0,18% não pode assustar ninguém. Entretanto, é bom ressaltar que já existe gente falando que, dado o volume atingido, o financiamento de veículos novos e usados vai ser o nosso sub-prime.
Infelizmente o Brasil insiste em andar na contramão da economia mundial. A manutenção da taxa SELIC, pode ser ainda mais perversa aos anseios do setor produtivo, caso o Federal Reserve – FED, Banco Central norte-americano resolva, como é provável, cortar ainda mais a taxa de juros norte-americana. Teríamos nesse caso, uma supervalorização do real frente à moeda americana com prejuízos consideráveis ao setor produtivo nacional. Uma verdadeira inundação de dólares.
A quem isso interessa?

19 agosto 2007

Estado Mínimo

Me leva para a outra margem do rio? Perguntou o escorpião.
De jeito nenhum, você vai me picar e eu vou morrer! Respondeu o sapo.
Mas se eu te picar você afunda e eu morro junto, eu nunca faria isso! Disse o escorpião.
Você tem razão, então vamos lá. O escorpião subiu nas costas do sapo e partiram. Mas, quando estavam no meio do rio, o escorpião picou o sapo. O sapo já desfalecendo perguntou para o escorpião: Por que você fez isso? E o escorpião respondeu: Não pude evitar, é a minha natureza.
Está gravado no DNA do capitalismo, e se fosse remédio deveria vir indicado na bula – Atenção! Efeitos colaterais já observados em diversos pacientes: causa acumulação e concentração de renda. Se persistirem os sintomas procure um especialista.
O capitalismo é selvagem, arredio a controle central e arisco à presença de qualquer objetivo que não seja o lucro. Ao menor sinal de perigo, corre ou ataca. É a natureza dele.
Marx, cidadão de outros tempos e outras paradas, previu o colapso do capitalismo e pregou o Estado Máximo, proprietário da máquina e da decisão, como o único antídoto capaz de combater a exclusão social que o capitalismo gera em sua ânsia de acumulação e concentração. Sua idéia de um estado onipotente e onisciente, que conhecedor do bem e do mal era capaz de determinar o que era bom para todos e, por conseguinte bom para cada um, foi detonada pela natureza ego-centrista e relativista do homem.
Noutros tempos e lugares, os neoliberais propõem o Estado Mínimo, apostando todas as suas fichas na liberdade de mercado. Mas como Marx, esqueceram a natureza do seu objeto de estudo – o capitalismo, e entregam as chaves do galinheiro à raposa. Talvez, no hemisfério dos anglo-saxões, com os problemas básicos de sobrevivência já resolvidos, faça sentido um mercado mais livre e competitivo. Mas, pela altura do Trópico de Capricórnio, onde o Brasil lidera uma longa fila de nações que precisam encarar e resolver, de uma vez por todas, o problema da miséria e das desigualdades sociais, isso não faz muito sentido.
Com 40 milhões de cidadãos vivendo abaixo da linha de subsistência, o Brasil não pode se dar ao luxo de deixar o mercado, e principalmente, o seu povo entregue às leis do mercado. Seria a Lei da Selva, só sobreviveriam os mais fortes, e aqui o mais forte é aquele que tem mais dinheiro.
Não cabem em uma situação como essa, frases de salão do tipo: é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe. A turma está morrendo de fome e não tem tempo para aprender, só para sobreviver. Tão pouco, políticas assistencialistas, que isoladas e sem um plano de recuperação, nada fazem além de adiar o problema. O Fome Zero, descolado de um programa de recuperação e desenvolvimento de longo prazo, não passa de palanque eleitoral inócuo e hipócrita. Por outro lado, qualquer programa de desenvolvimento sem assistência efetiva e urgente à essa população é igualmente inócuo e hipócrita, uma vez que esse exército de miseráveis corroerá qualquer tentativa de decolagem.
Então como ficamos? A miséria corroe a economia e a economia, em seu modelo de produção capitalista, corroe as classes menos favorecidas. Marx não tinha razão, afinal não foi o capitalismo que se afogou em suas próprias lágrimas, e o modelo neoliberal não se aplica à nossa realidade de diferenças e desequilíbrios tropicais.
No meio do caminho, Keynes percebeu a grande capacidade do modelo de produção capitalista e propôs alguns ajustes a essa poderosa máquina de gerar produto, para que a mesma também pudesse gerar correções de rumo e evitasse assim o colapso profetizado por Marx. Keynes entendeu o Governo como um agente de grande porte que poderia, visando a economia como um todo, ajustar as engrenagens na direção do bem-maior do todo. Mas, atenção! Como dizia Mr. Keynes: "No longo prazo estaremos todos mortos".

18 agosto 2007

Keynesiano ou liberal? Sou cristão!

Algum tempo atrás um colega professor me chamou de keynesiano. Pouco tempo depois fui taxado por outro colega, como se uma ofensa fosse, de liberal. Ou não sabem o que estão dizendo ou estou oscilando entre uma e outra doutrina.Eu sou é botafoguense e a única doutrina que sigo é a cristã!
No blog vocês podem ver uma foto do Keynes. Mas, poderiam ver também do Ricardo, Marx, Smith, Schumpeter, Marshall...Todos grandes pensadores, mas como já disse a única camisa que visto é a do Botafogo FC.
Algo de bom tem em cada uma das teorias desses senhores, e algo que não fecha também. Não sou purista, aliás sou sim. Purista que não existe purismo puro, pirou?
Tem que deixar a economia fluir segundo as suas próprias leis sim. O Estado não deve interferir o mínimo possível no mercado, claro! Mas, como ignorar as necessidades preementes dos miseráveis, sem interferir no mercado? O cara é analfabeto funcional (ou pior), tem lumbriga, os filhos sob a sombra da inanição e você realmente acredita que o mercado vai absorvê-lo naturalmente e uma situação de crescimento? Quando, hoje? Amanhã? Depois de amanhã, o cara tá no desespero da sobrevivência à qualquer custo!

17 agosto 2007

SENADO BRASILEIRO - Uma vergonha nacional

A questão da alegada governabilidade não me parece legítima, uma vez que questões macroeconômicas não se fazem sentir no curto prazo. O PIB, os resultados da balança comercial ou a dívida pública, por exemplo, não são construídos no curto prazo. O que responde no curto prazo é o mercado especulativo e esse, pelo menos no volume que importa, é muito mais uma questão de capital internacional do que doméstica. Dessa forma, a discussão que realmente interessa é: Que país é esse? Que país queremos legar aos nossos filhos? Um país de frases pobres de valores e princípios tipo:
o Os fins justificam os meios;
o Rouba mas faz;
o Errado mas todo mundo faz;
o Lei de Gerson (pobre Gerson...).
É preciso, de uma vez por todas, pensarmos o Brasil como uma nação baseada em valores e princípios reais e aderentes ao nosso povo e cultura. E não faremos isso com uma visão míope de curto prazo.
Normas, regras e leis são formas reduzidas de expressar desejos e anseios maiores de uma nação. E para que sejam genuínas e consistentes é preciso que estejam apoiadas em princípios e valores. A nossa Constituição exprime com muita clareza esses princípios em seus primeiros 4 artigos. No Título I “Dos Princípios Fundamentais” o artigo 1º define que a República constitui-se de Estado democrático de direito e fundamenta-se em:
o soberania;
o cidadania;
o dignidade da pessoa humana;
o valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
o pluralismo político.
No artigo 3º define os objetivos fundamentais da República:
o construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
o garantia do desenvolvimento nacional;
o erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais.
Os tópicos acima estão na primeira página de nossa Constituição e parecem esquecidas e ou desconhecidas de governantes e governados. São questões cruciais e com força de lei. Mas, para que sejam concretizadas é preciso planejamento consistente e firmeza de propósitos. Porém é questão pertinente ao seu sucesso, a capacidade e integridade de seus gestores. Não é possível pensar o longo prazo com foco em questões pontuais. Trata-se de um projeto de construção de uma grande nação. Grande em qualidade de vida, de respeito ao cidadão e acima de tudo baseada em um Estado de Direito.
O caminho que países bem sucedidos escolheram foi o investimento maciço em educação. Mas, como vamos ensinar às gerações futuras sobre cidadania, dignidade ou ainda sobre valores, se pensamos em admitir pequenos pecados em prol da governabilidade?
Não vamos construir uma nação digna para nossos filhos perdendo a referência entre o certo e o errado. Vamos orar à noite com nosso filho e pedir: perdoa-o, pois ele não sabe o que faz? Ou ruim com ele, pior sem ele? É assim que pretendemos construir um país melhor?
Um povo sem indignação perante essa lama é um povo sem esperança e um povo sem esperança é um povo sem futuro. INDIGNA NAÇÃO
A sátira política e a piadinha sobre os absurdos praticados pelos donos do poder têm seu momento mais fértil na ditadura, onde sobre o poder das armas só nos restava a fuga para o jocoso. Não estamos, porém, sob o poder das armas. Estamos sob o poder da impunidade da maior fábrica de pizzas da história. Onde os pizzaiolos vão assando as pizzas, olhando pelas janelas do congresso e avaliando o que pode ser digerido pelo populacho.
É preciso ficar atento, pois os interessados (não no bem-estar da população é claro!), são mestres em desviar o assunto e acusados e acusadores são farinha do mesmo saco em rodízio perpétuo de cadeiras.
Como será que o Seu José, não é o Dirceu, ou a Dona Maria, ali da esquina, vêem o que está se passando? O que será que eles dizem e ensinam aos seus filhos? Estudem sério e trabalhem duro que vocês terão sucesso, ou sejam espertalhões? Estão vendo uma fila de espertalhões que metem a mão no alheio e depois, quando muito, perdem o mandato. Mas, pior ainda, podem renunciar e voltar depois como se nada tivesse acontecido. A memória do povo é curta ou é manobrada?
E a discussão é desviada para a governabilidade. Ora, como podemos encobrir toda essa sem-vergonhice com governabilidade? É tanta crendice que vamos acabar temendo que o céu caia sobre nossas cabeças! Vamos discutir isso também?
Para não perder a viagem vou falar mais uma vez da carga tributária. Diz-se abertamente, aos quatro cantos, que a carga tributária é insustentável. Mas essa, a carga tributária, só aumenta e por isso há informalidade (neologismo de sonegação). É o joguinho do me engana que eu gosto ou do deixa que eu deixo?
E ainda tem revista semanal investindo, há várias edições, em provar que isso também acontecia no governo anterior! É o famoso “todo mundo faz, então...”. Estamos perdendo o prumo com discussões vazias que só interessam aos oportunistas de momento. É redundante e é sério, muito sério!
Perdemos o rumo, não temos objetivos e não há compromissos. A pobreza aumenta, as desigualdades batem recordes e a cidadania é profanada em todos os aspectos possíveis. Governabilidade?
Os Princípios Fundamentais da República são de faz-de-conta?
Então governabilidade para quem cara-pálida?

16 agosto 2007

ALCA, MERCOSUL OU SOZINHO NO JAÓ?

Afinal, é interessante o Brasil participar dessas associações? Antes de discutirmos a questão dos blocos econômicos, devemos entender os princípios que justificam sua existência. Não é preciso ser um iniciado em economia ou mesmo conhecer economês. A organização em blocos é puramente uma questão de estratégia de sobrevivência. Trata-se do fundamento básico da competição: “a união faz a força”. Em outras palavras, a associação em blocos econômicos busca a troca de benefícios entre nações com aparentes interesses congruentes. E é justamente nesse ponto – interesses congruentes –, que começam os problemas. Enquanto as discussões estão no enlevo da irmandade dos povos, tudo é possível e a construção de um grupo forte com poder de barganha nas negociações internacionais e facilidades entre os associados, parece apenas uma questão de “quando começamos?”. Mas, quando entramos na esfera das relações comerciais cada um dos “hermanos” olha apenas para seus próprios interesses, levantando barreiras aduaneiras independente dos prejuízos que causem aos seus parceiros. Casos recentes, e não são poucos, envolvendo produtos brasileiros na vizinha Argentina, ilustram bem essa questão. A maior competitividade da indústria brasileira, ameaça a produção, ou mesmo a sobrevivência dos correlatos “hermanos”.
Na verdade a diversidade, e não os interesses congruentes dão o tom das negociações do Mercosul (Mercado Comum do Sul do qual participam Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina) e da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). A economia americana é 10 vezes maior que a brasileira que é 2 vezes maior que a argentina. Isso em termos de produto total. Imagine o tráfico de mão-de-obra entre economias em franco crescimento, e consequentemente ofertantes de oportunidades, em comparação com economias estagnadas e que desafortunadamente continuam a apresentar taxas de crescimento populacional acima do desejável. Países com taxa de crescimento populacional maior do que taxas de crescimento econômico, são fortes candidatos à exportação de pobreza e, portanto grandes obstáculos à concretização de blocos econômicos integrais. Esse é o caso da América Latina em geral.
O discurso é mais confortável de cima da posição norte-americana no caso do ALCA, ou mesmo do Brasil no caso do Mercosul. É evidentemente mais fácil ao mais forte dizer ao mais fraco que ele, o mais fraco, deve abrir mão de ganhos localizados no curto prazo, em favor de ganhos gerais no longo prazo. Ou seja, admitir que algumas indústrias percam no curto prazo em favor de ganhos para toda a economia no longo prazo. Ora, não é muito difícil entender isso. Os americanos ganham, com a queda das barreiras alfandegárias, acesso a um mercado (sem necessariamente abrir o seu para o couro, o aço ou a laranja brasileira, por exemplo – isso uma distorção do conceito de bloco) e sem sofrer grandes ameaças de produtos argentinos, brasileiros, uruguaios etc. que não têm competitividade em relação à produtos americano. De nossa parte, acontece algo semelhante, mas em menor proporção, em relação às outras nações no Mercosul.
Não me parece razoável, entretanto, esperar do empresariado de uma maneira geral, atitudes altruístas voluntárias em nome da coletividade.
Como então a Europa atingiu a fase de união econômica e nós estamos rateando ainda na formulação de políticas para o Mercosul ou ALCA? Em primeiro lugar, devemos analisar a estabilidade político-econômica de cada grupo envolvido. Digo estabilidade político-econômica, pois são interdependentes e, portanto não-hierarquizáveis. Nesse quesito a Europa apresenta inquestionável vantagem tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo. Com exceção dos mais recentes sócios incorporados à União Européia – UE –, a homogeneidade é mais facilmente encontrada entre as nações do grupo. O que a deixa em confortável situação para trocas mais equilibradas e com menores chances de ameaça às indústrias locais específicas.
Em segundo lugar há que se fazer um planejamento consistente e rígido em seus fundamentos, mas flexível e dinâmico em sua amplitude. Quero dizer com isso, que os objetivos devem ser firmes e claros, mas as regras gerais devem conter, diante de toda a diversidade que envolvem, instrumentos que viabilizem questões pontuais. Mais uma vez, a maior homogeneidade européia favorece a concretização de um plano que exige de partida, uma menor gama de soluções de conflitos político-sociais. Porém, também não estão livres de problemas sérios e de solução complexa. Vejam os problemas dos distúrbios nas ruas de Paris, causando grande preocupação em toda a Europa.
A integração econômica entre países, passa basicamente por cinco etapas. Na primeira etapa é criada a Zona de Livre Comércio, na qual os países sócios eliminam barreiras sobre comércio recíproco, mas matêm políticas comerciais independentes em relação aos demais; na segunda a União Aduaneira, que incorpora questões para uma política comercial uniforme; na terceira etapa estabelece-se o Mercado Comum, que acrescenta às fases anteriores o livre movimento de fatores de produção (capital e mão-de-obra); na quarta etapa temos a União Econômica, que inclui a harmonização de algumas políticas e finalmente na quinta e última fase concretiza-se a Integração Econômica Total, que harmoniza todas as políticas envolvidas no processo.
Temos então um paradoxo. Se o objetivo da criação de um bloco econômico visa à união de forças, com capacitações específicas de cada nação, para que haja a troca de know-how, livre fluxo de recursos e o respectivo desenvolvimento da homogeneidade estrutural de cada economia. Como podemos lidar com posturas protecionistas geradas por embaçadas visões de curto prazo? Como pode o um governo fraco suportar pressões internas de setores prejudicados por maior competitividade de empresas ou produtos estrangeiros? Então, a organização em blocos é interessante ao Brasil, e acima de tudo é possível, ou apenas um sonho na América Latina? A resposta é sim para ambas as perguntas. Mas, é preciso que as Chancelarias de cada país consigam envolver e representar, de forma efetiva, suas entidades produtivas. E acima de tudo, que os paises do cone sul, sejam capazes de suportar a tentação a convites para negociações paralelas com os americanos (a quem não interessa o Mercosul).
O Brasil é um gigante dentro do Mercosul, e você há de concordar que conviver com um gigante traz algumas preocupações para os nossos vizinhos. Veja alguns números do FMI referentes à 2003, que expressam nossa importância dentro do bloco:
o O Brasil tem 78,9% dos habitantes do bloco;
o 77,4% do produto total;
o 64,2% das transações comerciais do bloco;
o 31,5% de nossas exportações para o bloco são de veículos e bens de capital;
o 36,2% de nossas importações do bloco são de cereais e combustíveis.
Note que o perfil de nossas transações também nos é favorável, uma vez que exportamos bens de grande valor agregado e importamos commodities.
Nossa Balança Comercial com o resto do mundo está assim dividida:
EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES
Mercosul 20% 27%
NAFTA 23,3% 20,3%
União Européia 21,8% 21,3
Outros países 34,9% 31,4%
Não é inteligente criticar o acesso a novos mercados, circulação de fatores produtivos e principalmente a troca de know-how. A visão curta e embaçada do protecionismo já nos deu (lembram da lei de proteção à informática?) uma boa noção do que acontece quando nos “fechamos em copas”.
Não vamos, entretanto, fazer as coisas de forma afoita e atabalhoada. Há que se traçar objetivos claros e planejar processos. Mas, não vamos nos esquecer do caminho até aqui percorrido e de suas duras lições.
A “protegida” indústria local se deita sobre seu mercado e pára no tempo. Vocês se lembram quando vinham te avisar animadíssimos: “Você viu o novo fusca? É verde!”

14 agosto 2007

ESSA CRISE AINDA NÃO FALA PORTUGUÊS

A globalização já não é mais assunto para discussões infindáveis repletas de ideologias e paixões, é um fato que deve ser aceito e entendido. Há muito pouco tempo atrás, nações do mundo inteiro desenvolviam e implementavam mecanismos de manutenção de sua hegemonia político-econômica. A globalização trouxe uma nova abordagem para esse tema. A partir de agora passamos a buscar não mais como evitar e sim em como lidar com a inexorável perda de hegemonia diante da internacionalização do mercado de capitais. A participação do capital internacional, sua entrada e saída, é tão expressiva que torna o mercado doméstico não só dependente como principalmente, vulnerável às suas oscilações de humor. Dessa forma, variáveis exógenas, ou seja externas ao sistema em questão, têm em muitos casos, maior poder de afetar o mercado doméstico do que fatores internos.
A Bolsa de Valores na semana passada, apresentou inesperada queda de mais de 8%. Inesperada? Nem tanto! Para alguns Analistas Técnicos mais atentos, desde meados do mês de abril, havia fortes indicações de que essa tendência de alta sofreria um revés.
Mas, e quem foi pego comprado (com ações em mãos) pela queda na Bolsa, deve vende e realizar esse prejuízo de 8% vendendo logo antes que caia mais, ou deve aguardar que seus papéis voltem aos níveis de preços anteriores? Depende da ação que você tem em mãos. Se for de uma empresa com bons fundamentos econômicos, não vejo por que acreditar em uma tragédia. Evidentemente, o contrário também se confirma. Se você estiver de posse de uma ação que não possua bons fundamentos econômicos, as chances de que essa empresa seja atingida pelo nervosismo de mercado é grande. O efeito manada está aí mesmo.
O mercado de ações, é seguramente o melhor exemplo, e talvez o único, de uma economia de concorrência perfeita, onde as forças de compra e venda determinam os preços, sem outras interferências. Dessa forma, é bastante sensato olhar para esse mercado como um indicador do que está realmente acontecendo na economia como um todo.
E o quê esta´acontecendo afinal? Economista apontam para uma crise de liquidez resultante de um longo período de ganância do capital especulativo. Buscaram por um período maior do que o habitual por maiores ganhos, expondo-se consequentemente a maiores riscos. Até o momento o problema parece estar restrito à economia nominal e não há contaminação da economia real. Porém, a aversão ao risco aumentou e o perigo de haver uma corrida aos bancos não pode ser desconsiderada. Mas não estou falando de Brasil, OK?. Por isso os Bancos Centrais entraram no mercado garantindo que os bancos honrem seus compromisso. Como fazem isso? Comprando títulos que os bancos tenham em seu poder. Assim, o banco troca papel (título) por dinheiro, e estes podem cobrir os saques de seus clientes. Entretanto, nas três intervenções até então ocorridas, o FED, que é o banco central americano, a oferta de recursos do FED foi menor do que a demanda dos investidores. O banco central suíço tem oferecido recursos a taxas inferiores às taxas de mercado. O japonês e o australiano têm colocado mais recursos no mercado que o habitual temendo que as taxas de curto prazo saltem à níveis indesejáveis. O euro atingiu a menor cotação frente ao iene dos últimos três meses.
Tudo isso sinaliza ao mercado que realmente existe um problema sério ligado à liquidez, o que pode se refletir na economia real (produção) pela queda de consumo.
Na verdade, os BC's procuram conter o aumento dos juros interbancários por conta das perdas de alguns fundos em operações de crédito imobiliário de segunda linha, os subprimes, nada mais são do que uma linha de crédito a pessoas sem comprovação de renda. Na verdade, teme-se que a crise se estenda para mercados de primeira linha também, uma vez que muitos empréstimos nesses mercados foram concedidos tempos atrás com taxas de 1% ou 2% e estão sendo ajustados pela taxa vigente de 5,25%. Criando com isso volume preocupantes de inadimplência. Assim, o valor do imóvel, que está em queda, passa a ser menor do que a dívida financeira (sem financiamento adequado a procura por imóveis cai e por consequência seus preços).
Não podemos esquecer, que o capital especulativo é um animal arisco, agressivo e acima de tudo covarde. Procura por galinhas mortas e foge ao menor sinal de perigo. Pessoalmente concordo com o Ministro Mantega quando diz acreditar que essa crise pode reverter a favor do Brasil. Explico melhor, uma vez que os investidores percebam que nos fundamentos de nossa economia reside maior segurança, aliada a uma remuneração maior do que a média do mercado internacional. Na verdade, nossa pequena dívida externa e o bom nível de reservas externas, funcionam como uma blindagem à toda essa crise. A expectativa é fechar 2007 com US$ 30 bilhões em investimento externo. Vale lembrar ainda, que atingimos US$ 10,32 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto – IED no mês de junho, um recorde. Imagine a grandeza desse número, pois a média dos últimos 5 meses foi de apenas US$ 2,11 bilhões.
Podemos entender que no caso brasileiro, não há motivos para qualquer atitude mais radical. Não há até o momento, quaisquer indícios de reflexos dessa crise na economia real brasileira. A economia brasileira apresenta agora, uma situação que deixa o mercado razoavelmente tranquilo. É claro que sempre existem os oportunistas de plantão que não exitam em se utilizar da mídia sensacionalista para criar situações de insegurança e medo. O efeito manada é filhote desses alarmistas e pode ser devastador para a credibilidade das instituições envolvidas.

19 julho 2007

Meio Ambiente e Você

Algum tempo atrás, mais precisamente no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de maio, li matérias em vários jornais locais, nacionais e internacionais. Assisti ainda, a alguns bons documentários, e terminei o dia pensando de que forma toda essa informação poderia ajudar o cidadão comum a entender melhor o que realmente está acontecendo. De que forma as mudanças no meio ambiente afetam sua vida e de que forma sua vida afeta o meio ambiente. Afinal, nos deparamos com duas visões diametralmente opostas em relação ao meio ambiente. A primeira, mais recorrente, dá um prognóstico tão cataclísmico que nos induz, por absoluta necessidade de evitar o pânico e o desespero, a ignorá-la e naturalmente optar pela outra visão. A segunda, procura amenizar um pouco a situação atual e ainda oferece a benesse de que a tecnologia vai resolver todos os problemas. Infelizmente, no mundo moderno onde você acaba conhecendo um pouco de tudo, sem conhecer realmente nada de verdade – um generalista – , as abordagens são simplistas e tendem a evidenciar apenas os dois extremos de uma mesma idéia. Ou seja, ou é preto ou é branco. Nuances de cinza são peremptoriamente ignoradas.
Não exito um instante sequer em afirmar que a questão ambiental é o assunto mais complexo e de maior importância que a humanidade já se defrontou. Ele afeta à todas as áreas da existência humana e portanto demanda conhecimento holístico e sistêmico. Imagine conseguir consenso sobre um tema vital à nossa existência reunindo numa mesma mesa de negociação advogados, engenheiros, economistas, administradores, médicos, biólogos, zoólogos, botânicos, políticos, brasileiros, argentinos, chineses, líbios, franceses, canadenses, patrões, empregados etc. São milhões de visões diferentes, com interesses diferentes (muitas vezes divergentes) e com graus de motivação diferentes. Dá para imaginar a discussão?
A questão ambiental começou a ser discutida publicamente quando grupos isolados de ecologistas apareceram na mídia defendendo animais em extinção, matas e rios aqui e ali. Eram idealistas e românticos que colocavam sua própria integridade física em risco, mas conseguiam angariar simpatia e apoio por onde passassem. Esses grupos se organizaram, cresceram e acabaram atingindo proporções econômicas, em alguns casos, respeitáveis.
O homem, e sua volúpia de desejos incontroláveis, eram os grandes vilões que faziam o que fosse preciso para conseguir o que queriam, extinguindo espécies e destruindo tudo a sua volta, sem um pingo de remorso.
Essa idéia, apoiada pela máxima de crescer a qualquer custo, tinha como seu oposto a visão, então vigente, de que era mais importante a preservação de determinado rio e seu eco-sistema, do que a sobrevivência das populações ribeirinhas. O mundo seria lindo, limpo e sem o homem para destruí-lo. Poderíamos, segundo essa turma, morar na lua e admirar à distância a beleza da terra.
Mas foi preciso que o idealismo e até mesmo o romantismo desses pioneiros da questão ambiental, plantasse a semente do que hoje é uma das questões mais complexas da humanidade e que afeta sua própria existência.
O homem não é estranho ao meio ambiente, ele é parte do mesmo. A questão ambiental não deve ser encarada como uma restrição à atividade econômica e sim como um componente de continuidade dessa atividade - de sustentabilidade de nossa civilização. Afinal, em ambiente em processo de degradação a atividade econômica é efetivamente refreada. A sustentabilidade ambiental é por conseguinte a própria sustentabilidade da atividade econômica.
A terra está em processo de aquecimento, as geleiras derretendo, o nível do mar subindo, o ar e a água a cada dia mais poluídos, as florestas estão sendo devastadas, as matas queimadas etc. Como tudo isso está acontecendo e como estou contribuindo para esse aparente apocalipse? A resposta para essa pergunta é simples e perturbadora. Simples porque não exige nenhuma qualificação especial para entender e perturbadora porque ela está inserida na essência do nosso modelo de produção e por conseguinte de existência. O consumo, que mantém toda a engrenagem do modelo capitalista funcionando é a origem da degradação ambiental. Quanto mais você consome, não importa o quê, mais é retirado (do estado limpo) e mais é despejado (em estado poluente) no meio ambiente. Para onde foi o último pneu que você trocou, e as baterias do seu celular? Você já visitou um aterro sanitário, um lixão? Devia.
Todos sabemos que a melhor prática de manutenção, tanto em nossas casa quanto em nosso escritórios, é o de que: “se não sujarmos, não precisamos limpar”. Certa ocasião, fiz uma reunião com os funcionários da empresa onde trabalhava , era uma grande loja de departamentos (a maior da época), e ao falarmos de salários e comissões expliquei que o bolo salarial era um só e que a necessidade de pessoas catando lixo pela empresa que os próprios empregados jogavam em lugares inadequados, ou mesmo de fiscais para vigiar atos indevidos, corroíam as possibilidades de melhores ganhos para todos. Atitudes responsáveis beneficiam a comunidade como um todo. Sistemas burocráticos, têm como objetivo evitar ou dificultar falhas/fraudes nos processos de uma maneira geral. Isso é desperdício, isso é consumo desnecessário. E pode ser combatido com mudanças de atitudes. Nossa sociedade tem que dar um basta na “lei do morro” - não ví nada, não sei de nada, não me envolvam. Você ensina seus filhos a “se dar bem” ou a “ser do bem”?
O homem é cheio de surpresas e agora busca os biodegradáveis, a coleta seletiva de lixo, a reciclagem, re-uso e usos inteligentes. Cria leis ambientais e projetos de educação ambiental. O que você faz quando vê uma mensagem no hotel pedindo para você economizar a água? Eu hein! Estou pagando e ainda tenho que me preocupar em economizar água para esses caras? Você lava calçada com a mangueira jorrando água para todo lado? Ou escovas os dentes com a torneira aberta? Não podemos simplesmente parar de consumir. Mas, o desperdício no Brasil ainda é um problema de origem cultural com efeitos nefastos em nosso bem-estar. Em nosso cotidiano, sem perceber, estamos desperdiçando o que poderia fazer a diferença em um futuro próximo. Simples mudanças de hábitos, são atitudes que podemos tomar imediatamente sem comprometer nosso estilo de vida. Não precisamos ficar esperando por programas mirabolantes do governo ou de quem quer que seja, para começarmos a mudar o ambiente em que nossos filhos vão viver. Lembrem-se que a água já foi um bem gratuito.

19 junho 2007

Gestão de Curto Prazo - Miopia Tupiniquim

Quando falamos em gestão de grandes negócios estamos falando de organização, planejamento e controle de uma infinidade de atividades que interagem de forma complexa e sistêmica. É por definição, um processo de longo prazo. Para tal, não podemos ignorar a questão estratégica que determinará as metas e os objetivos básicos do empreendimento e a conseqüente adoção de cursos de ação e de alocação dos recursos necessários para realizá-las.
O empreendedor de sucesso determinará suas metas, de acordo com sua capacidade empresarial. Avaliando recursos disponíveis, capacidade de alavancagem e cenários possíveis. Dessa forma, o longo prazo e as principais políticas envolvidas determinarão as questões relevantes que o empreendimento enfrentará. Suas decisões deverão espelhar um comportamento consistente em toda a organização. Sabemos que uma vez estabelecida, a estratégia não é facilmente revertida. Pois um plano estratégico coerente molda a persona competitiva da empresa.
De maneira geral a análise estratégica pode ser abordada de várias formas:
• Sob a perspectiva da teoria dos jogos matemáticos, onde buscamos descobrir a lógica das escolhas dos vários jogadores (players);
• Sob a perspectiva psicológica, focalizando as motivações e os comportamentos dos indivíduos tomadores de decisão;
• Ou ainda sob a perspectiva organizacional, da ciência política ou mesmo da antropologia.
Todavia, é fato afirmarmos que o conhecimento aprofundado da disciplina, nos permite formular hipóteses refinadas e poderosas para o desenvolvimento de estratégias eficazes.
A ciência econômica possibilita que o analista seja explícito sobre os elementos-chave do processo considerado. Modelos Econômicos têm sido eficazes ao identificar com cuidado acurado questões relevantes ao planejamento estratégico:
1. Quem são os jogadores que efetivamente ditam as regras?
2. Que decisões são “fixadas” na situação em questão?
3. O que os tomadores de decisões estão buscando? Maximizar lucros ou firmar posições?
4. Quais as ações que estão sendo consideradas e quais suas variáveis estratégicas?
5. Qual o horizonte de tempo a ser considerado?
6. Que mecanismo é utilizado para traduzir decisões específicas em resultados específicos?
Mas, o que acontece quando analisamos a gestão pública em geral? Levamos em conta os mesmo princípios de gestão empresarial? Podemos considerar a gestão pública como um empreendimento? Claro que sim! Na verdade, a gestão pública é um empreendimento de escala nacional características específicas da coisa pública. Podemos simplificar da seguinte forma: O empreendimento privado tem como objetivo o lucro e o empreendimento público tem como objetivo o bem-estar social. No mais, estamos falando de eficiência!
Tenho certeza que você já deve estar imaginando como isso acontece na Empresa Brasil.
Imagine o Presidente da República como semelhante ao presidente de uma grande empresa. Como esse último que sofre pressão dos acionistas cobrando resultados. O Presidente da República sofre pressão do povo, dos eleitores em última instância. Seus ministros são como diretores executivos especializados em suas áreas de atuação e os funcionários públicos são os gerentes e os braços dessa organização de dimensões gigantescas. O Congresso é o Conselho de Administração que representa na empresa privada, os interesses dos acionistas.
Ih, será que isso funciona? Tem que funcionar, pois é esse o modelo que escolhemos pelo voto e que está estabelecido na Constituição.
Por isso é tão importante essa discussão que não está tomando a importância devida sobre o tempo de mandato e da reeleição. Como vimos anteriormente, planejamento é coisa de longo prazo e de continuidade. Ou seja, qualquer planejamento sério deve ter coerência entre prazo (que tem que ser longo) e continuidade para ser minimamente sustentável.
E o que vemos proposto no Congresso? Uma proposta para acabar com a possibilidade da reeleição! A explicação que dão para essa proposta é no mínimo curiosa. Dizem que os candidatos da situação levam vantagem sobre os demais candidatos. E daí? Se isso for mesmo verdade (há controvérsias), vamos criar um problema para resolver outro? Se, eu como eleitor, quiser (hipoteticamente) dar meu voto em favor da situação é porque acredito que é o melhor e pronto! O que tem de errado nisso? Vamos dar fim a um processo de gestão com um projeto interessante, para que a eleição seja competitiva? Nós sabemos que a primeira coisa que um novo ocupante de cargo político faz é dizer que tudo que o seu antecessor fez foi uma droga e que ele vai mudar tudo. Só aí, para desfazer, já vai um ano e muito dinheiro público (nosso) jogado fora.
Então qual a solução? Em primeiro lugar vamos separar os funcionários públicos de carreira dos políticos que ocupam cargos na gestão pública. Em segundo lugar vamos ampliar, aprofundar e acelerar a estruturação organizacional dos processos de gestão pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Planejamento Plurianual (PPA) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) são embriões fundamentais à blindagem da coisa pública aos desvios de interesseiros e oportunistas de plantão. Dessa forma, a proposta em votação, sem a contrapartida de mecanismos de gestão e controle que tornem projetos de longo prazo blindados às vocações políticas de momento, é um retrocesso na gestão pública brasileira.
Gestão pública é uma questão de escolha – o que fazer com os escassos recursos disponíveis? Uma ponte ou um hospital? Estradas ou ferrovias?
A máquina governamental deve ser eficiente na execução de suas atividades e o poder executivo deve ser criterioso nas escolhas a serem feitas. Planejamento criterioso deve ser feito para dar início e prosseguimento a projetos de interesse nacional e estes não podem estar sujeitos a humores de ocasião. A implementação desses projetos vai demandar um corpo de funcionários públicos competentes e comprometidos de forma independente de posicionamentos políticos individuais.
Vemos então, que tecnicamente (e na falta de instrumentos administrativos eficientes e amplamente implantados) é desejável um mandato mais longo e com possibilidade de reeleição. Justamente o contrário do que está sendo proposto no Congresso nesse momento. Mas, quem está discutindo isso?

19 maio 2007

JABOTI NÃO SOBE EM ÁRVORE

A menor taxa de câmbio dos últimos 5 anos é um sinal de que as coisas vão bem ou é mais um motivo de preocupação? Em primeiro lugar devemos entender o que é taxa de câmbio. Em uma sociedade moderna, todos os bens e serviços têm um preço. Ou seja, podemos comprar e comparar bens e serviços pelo seu valor monetário. Assim também é o dinheiro, que podemos dizer que tem como expressão do seu valor os juros, e as moedas estrangeiras que são comparadas ou trocadas pela taxa de câmbio (no Brasil expressa em dólares).
O Brasil já passou pelo regime de taxa fixa e pelo regime de bandas, no qual o Banco Central intervêm cada vez que o câmbio ultrapassava limites pré-estabelecidos de máximos e mínimos. Atualmente no Brasil prevalece o regime que chamamos de dirty floating - sistema híbrido no qual o câmbio é livre, porém, o BC intervêm buscando manter níveis que ele considera apropriados ao momentum econômico. Esses patamares são evidentemente camuflados pelas autoridades monetárias com o intuito de dificultar a especulação. Imagine quanto vale a informação de que o dólar está em determinado nível, que esse nível está abaixo do patamar considerado apropriado e que, por conseguinte ele vai entrar no mercado comprando um volume expressivo de moeda! Ora, não é difícil perceber que o valor do dólar vai subir e quem antecipar esse movimento de compra do BC, comprando na baixa (antes da compra do BC) vai ganhar dinheiro vendendo na alta (depois da compra do BC). Na verdade isso não é muito estranho aos iniciados na especulação desse mercado. Costuma-se inclusive, acompanhar as datas de pagamentos da dívida externa, que naturalmente representam demanda por dólar e que conforme o nível de estoque de divisas pode indicar um movimento de compra do BC.
Então por que o dólar continua caindo? Como um animal selvagem o capital busca alimento fácil e o capital internacional tem encontrado esse alimento fácil na taxa de juros brasileira. Com a atraente taxa de juros, em contrapartida às baixas taxas de juros internacionais, o pior do capital internacional – o capital especulativo – aporta em águas nacionais e aumenta a oferta de dólares no mercado. Com o aumento da oferta de dólares, seu preço – a taxa de câmbio – cai. Aliado à grande oferta de dólares na economia, a falta de um controle específico de capital (entra e sai com facilidade) e a estabilidade econômica nacional, acrescente ainda a isso, a proposta de isenção de imposto para o investimento externo da MP 281.
Parece que o atual governo fez uma opção pela manutenção de altos níveis de estoques de capital especulativo. Esse animal selvagem e nada altruísta que avança faminto atrás das facilidades que estranhamente oferecemos, é agora incentivado com uma renúncia fiscal exclusiva a estrangeiros. Somente uma visão míope de curto prazo (um mandato?) poderia buscar incentivar o capital especulativo em detrimento a qualquer outro estímulo ao capital construtivo. Não nos importa o emprego? Não nos importa o crescimento e o desenvolvimento? O que justifica o Estado senão o bem-estar comum, o bem-estar do povo? E o caminho para o bem-estar não é o crescimento e o desenvolvimento, que geram emprego e prosperidade? Os bancos batem recordes atrás de recordes de faturamento e rentabilidade, recordes mundiais! Os bancos que cada vez mais automatizados e informatizados, desculpem a redundância, geram cada vez menos empregos para o brasileiro desqualificado (pela mais absoluta falta de acesso à educação de qualidade). Você consegue imaginar aumentar seus lucros em mais de 40% de um ano para o outro? Pois é, os bancos estão realizando essa "façanha". Sistematicamente. Estamos promovendo a maior transferência de riqueza da história nacional. Estamos na contra mão das nações desenvolvidas, desviando riqueza do setor produtivo para o setor especulativo. O que faria um empreendedor de bom senso investir tempo e dinheiro no setor produtivo? Com todos os entraves burocráticos, tributários e trabalhistas que o poder público impõe, sua margem de lucro é ínfima e o risco altíssimo! Na especulação financeira é incentivado por isenções de impostos, facilidades burocráticas, inexistência de obrigações trabalhistas e margens fantásticas originadas de taxas de juros plutanianas. Sinto dizer que o empresário do setor produtivo, diante desse cenário, é um insensato.
Poeira não é fumaça, jaboti não sobe em árvore e eu não acredito em Saçi Pererê. Mas, com uma taxa de juros venusiana (ué, não era plutaniana? Bom, é de outro mundo do mesmo jeito!), uma carga tributária tão ignóbil quanto o mensalão e uma taxa de câmbio tão desanimadora quanto a "Pizzaria do Planalto", não dá para dizer que estamos planejando a construção de um modelo de desenvolvimento sócio-econômico. Estamos alimentando o pior do capitalismo, sua vertente selvagem. E matando o seu melhor, que é ser o modelo de produção mais eficiente jamais visto na história da civilização.
Nesse modelo especulativo, não há lugar para a fraternidade ou compaixão. Como ignorar 40 milhões de miseráveis, sem qualquer esperança de uma única oportunidade espontânea do mercado? O modelo anglo-saxão de livre mercado é próprio para países que não conhecem a miséria e a desesperança. Não podemos simplesmente importar um modelo de sucesso no hemisfério norte e ficar sentado esperando que as coisas aconteçam no longo prazo. Já dizia Keynes que no longo prazo estaremos todos mortos. Ensinar a pescar, é certamente mais eficiente do que dar o peixe. Mas, é preciso que ele suporte a fome do "período de aprendizagem", não é verdade? Então, temos que ter um programa de governo que ensine a pescar e dê o peixe ao mesmo tempo. Devemos criar um modelo de educação integrada e inclusiva e acima de tudo assistir as necessidades básicas e imediatas dessa gente brasileira. Se você acha que a lei da selva é a mais apropriada, ou é venusiano ou não é cristão! Vivemos em um país pródigo em diversidades, o que poderia até ser bom não fossemos também um país pródigo em concentração de riqueza e poder.
Não dá mais para esperar o bolo crescer primeiro para dividir depois. Temos que partilhar, contribuir e participar. Mas, só podemos fazer isso com um plano decente de governo e não com políticas assistencialistas e eleitoreiras.
Finalizando, eu não diria que o câmbio baixo é conseqüência ou sinal de que algo não vai bem. É pior que isso! É pura ineficiência de gestão macroeconômica. Vivemos em um país em que os juros altos incentivam a especulação, a carga tributária incentiva à informalidade e o câmbio incentiva o produto importado. Estamos colocando azeitonas na empada do vizinho. Estamos incentivando o emprego do gringo.
Bons tempos aqueles em que o problema nacional era a saúva, porque hoje ou acabamos com a miséria ou a miséria acaba conosco! É hora de indignação e de ação. Mãos à obra!