30 outubro 2013

Curto Prazo: A miópe estratégia brasileira.

Quando falamos em gestão de grandes negócios estamos falando de organização, planejamento e controle de uma infinidade de atividades que interagem de forma complexa e sistêmica. É por definição, um processo de longo prazo. Para tal, não podemos ignorar a questão estratégica que determinará as metas e os objetivos básicos do empreendimento e a conseqüente adoção de cursos de ação e de alocação dos recursos necessários para realizá-las. O empreendedor de sucesso determinará suas metas, de acordo com sua capacidade empresarial. Avaliando recursos disponíveis, capacidade de alavancagem e cenários possíveis. Dessa forma, o longo prazo e as principais políticas envolvidas determinarão as questões relevantes que o empreendimento enfrentará. Suas decisões deverão espelhar um comportamento consistente em toda a organização. Sabemos que uma vez estabelecida, a estratégia não é facilmente revertida. Pois um plano estratégico coerente molda a persona competitiva da empresa. De maneira geral a análise estratégica pode ser abordada de várias formas: • Sob a perspectiva da teoria dos jogos matemáticos, onde buscamos descobrir a lógica das escolhas dos vários jogadores (players); • Sob a perspectiva psicológica, focalizando as motivações e os comportamentos dos indivíduos tomadores de decisão; • Ou ainda sob a perspectiva organizacional, da ciência política ou mesmo da antropologia. Todavia, é fato afirmarmos que o conhecimento aprofundado da disciplina, nos permite formular hipóteses refinadas e poderosas para o desenvolvimento de estratégias eficazes. A ciência econômica possibilita que o analista seja explícito sobre os elementos-chave do processo considerado. Modelos Econômicos têm sido eficazes ao identificar com cuidado acurado questões relevantes ao planejamento estratégico: 1. Quem são os jogadores que efetivamente ditam as regras? 2. Que decisões são “fixadas” na situação em questão? 3. O que os tomadores de decisões estão buscando? Maximizar lucros ou firmar posições? 4. Quais as ações que estão sendo consideradas e quais suas variáveis estratégicas? 5. Qual o horizonte de tempo a ser considerado? 6. Que mecanismo é utilizado para traduzir decisões específicas em resultados específicos? Mas, o que acontece quando analisamos a gestão pública em geral? Levamos em conta os mesmo princípios de gestão empresarial? Podemos considerar a gestão pública como um empreendimento? Claro que sim! Na verdade, a gestão pública é um empreendimento de escala nacional com características específicas da coisa pública. Podemos simplificar da seguinte forma: O empreendimento privado tem como objetivo o lucro e o empreendimento público tem como objetivo o bem-estar social. No mais, estamos falando de eficiência! Tenho certeza que você já deve estar imaginando como isso acontece na Empresa Brasil. Imagine o Presidente da República como semelhante ao presidente de uma grande empresa. Como esse último que sofre pressão dos acionistas cobrando resultados. O Presidente da República sofre pressão do povo, dos eleitores em última instância. Seus ministros são como diretores executivos especializados em suas áreas de atuação e os funcionários públicos são os gerentes e os braços dessa organização de dimensões gigantescas. O Congresso é o Conselho de Administração que representa na empresa privada, os interesses dos acionistas. Ih, será que isso funciona? Tem que funcionar, pois é esse o modelo que escolhemos pelo voto e que está estabelecido na Constituição. Por isso é tão importante essa discussão que não está tomando a importância devida sobre o tempo de mandato e da reeleição. Como vimos anteriormente, planejamento é coisa de longo prazo e de continuidade. Ou seja, qualquer planejamento sério deve ter coerência entre prazo (que tem que ser longo) e continuidade para ser minimamente sustentável. E o que vemos proposto no Congresso? Uma proposta para acabar com a possibilidade da reeleição! A explicação que dão para essa proposta é no mínimo curiosa. Dizem que os candidatos da situação levam vantagem sobre os demais candidatos. E daí? Se isso for mesmo verdade (há controvérsias), vamos criar um problema para resolver outro? Se, eu como eleitor, quiser (hipoteticamente) dar meu voto em favor da situação é porque acredito que é o melhor e pronto! O que tem de errado nisso? Vamos dar fim a um processo de gestão com um projeto interessante, para que a eleição seja competitiva? Nós sabemos que a primeira coisa que um novo ocupante de cargo político faz é dizer que tudo que o seu antecessor fez foi uma droga e que ele vai mudar tudo. Só aí, para desfazer, já vai um ano e muito dinheiro público (nosso) jogado fora. Então qual a solução? Em primeiro lugar vamos separar os funcionários públicos de carreira dos políticos que ocupam cargos na gestão pública. Em segundo lugar vamos ampliar, aprofundar e acelerar a estruturação organizacional dos processos de gestão pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Planejamento Plurianual (PPA) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) são embriões fundamentais à blindagem da coisa pública aos desvios de interesseiros e oportunistas de plantão. Dessa forma, a proposta em votação, sem a contrapartida de mecanismos de gestão e controle que tornem projetos de longo prazo blindados às vocações políticas de momento, é um retrocesso na gestão pública brasileira. Gestão pública é uma questão de escolha – o que fazer com os escassos recursos disponíveis? Uma ponte ou um hospital? Estradas ou ferrovias? A máquina governamental deve ser eficiente na execução de suas atividades e o poder executivo deve ser criterioso nas escolhas a serem feitas. Planejamento criterioso deve ser feito para dar início e prosseguimento a projetos de interesse nacional e estes não podem estar sujeitos a humores de ocasião. A implementação desses projetos vai demandar um corpo de funcionários públicos competentes e comprometidos de forma independente de posicionamentos políticos individuais. Vemos então, que tecnicamente (e na falta de instrumentos administrativos eficientes e amplamente implantados) é desejável um mandato mais longo e com possibilidade de reeleição. Justamente o contrário do que está sendo proposto no Congresso nesse momento. Mas, quem está discutindo isso?

06 julho 2010

INVESTIR OU NÃO INVESTIR, EIS A QUESTÃO

Desculpem mas não fui eu quem inventou mais esse neologismo. Pigs (ironicamente significa porcos em inglês) é uma corruptela para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain em inglês), e não foi a toa que foi criada. Em contraponto aos Bric’s – Brasil, Rússia, China e Índia, que representam os emergentes da vez. Os Pigs não são nenhuma referência à prosperidade de suas economias, mas às ameaças que representam à estabilidade mundial.
Nos últimos dias, ouvimos notícias de queda da bolsa, alta do dólar, para logo em seguida alta da bolsa, queda do dólar e por aí vai...Como lidar com mudanças tão fortes e repentinas dentro desse curto espaço de tempo¿ Vamos por partes.
O mercado está agudamente volátil e incerto. Volatilidade a parte, os fundamentos macroeconômicos que explicam a crise permanecem aí. Digo volatilidade à parte, porque grande parte atende à interesses dos que operam no mercado especulando e ganhando. Como já disse diversas vezes, não existe essa estória de todos perdem – se alguém perde alguém ganha. E, correções acentuadas atendem bem aos tubarões do mercado financeiro. E o mercado é imperioso e indiferente a questões morais e do bem-comum. O mais forte leva!
Os objetivos macroeconômicos perseguidos pelas economias mundiais são crescimento do produto e do emprego, estabilidade de preços e transações externas. E, os instrumentos de política econômica as já conhecidas políticas fiscal, monetária, cambial e política de rendas. O problema com essa crise é que ela está concentrada na Europa, e os países da União Européia - UE, não dispõem individualmente de grande parte do arsenal para essa batalha. Esses instrumentos macroeconômicos ficam seriamente enfraquecidas pela estrutura da EU que demanda ações em bloco. Mais do que isso, as políticas monetárias e cambiais ficam inviáveis para as necessidades de ações independentes para cada país. Juntaram em um mesmo saco, nações ricas e socioeconomicamente resolvidas com nações ainda com grandes desequilíbrios internos. Restam assim, as tão famigeradas políticas de austeridade fiscal, que têm seus resultados restritos ao médio-longo prazo. Afinal atacar o déficit fiscal via redução das despesas correntes do Estado não é das tarefas mais fáceis. Reduzir a folha de pagamentos, benefícios aos funcionários públicos, congelar salários e apertar os aposentados não goza de simpatia pública nem apresenta resultados no curto prazo.
Então como esperar resultados imediatos para ações de prazo mais elástico¿ Talvez isso explique a facilidade com que os especuladores operem o mercado com ganhos extraordinários no curtíssimo prazo – alta volatilidade. As autoridades monetárias começam a anunciar medidas drásticas e a expressar expectativas de “circuit breaker” ou mesmo determinando a interrupção de operações especulativas de maior risco como vendas a descoberto.
De todas as idéias até então apresentadas, a que nos parece mais consistente, é a de imputar o prejuízo ao causador do mal. É claro que não se pode deixar o sistema financeiro quebrar, a ajuda é necessária. Entretanto, se os bancos foram pródigos com o dinheiro alheio, que paguem a conta.
Nesse momento de extrema fragilidade, um conflito com aroma nuclear, entre as Coréias só faz aumentar as incertezas e gurus do apocalipse pipocam na mídia com projeções de colapso eminente. Essas figuras, que vivem da ignorância e do medo alheio, em nada colaboram, muito pelo contrário, são combustível para esse fogo fácil.
Na verdade, devemos deixar as discussões sobre a verdadeira causa da crise e possíveis soluções para acadêmicos e técnicos. A nós interessa apenas saber como tudo isso afeta nossos interesses. Como ficam nossos investimentos, atividades e projetos.
É preciso esquematizar nosso próprio cenário de recursos e objetivos. Em primeiro lugar, avalie sua disponibilidade e necessidades. Se a disponibilidade é apenas de curto prazo – menor que três anos, fuja da renda variável. Não consigo entender, como instituições sérias, lançam no mercado, prognósticos de crescimento com até duas casas decimais de precisão. Se não é possível no macro, no agregado, como fazê-lo no micro¿
No momento, não é possível fazer qualquer previsão séria para o mercado de ações com resgate menor do que três anos. Nesse caso, o mercado de moedas, se você tiver estomago de aço, ou uma boa estrutura de apoio por trás, é a opção que oferece as maiores possibilidade de ganho. Mas atenção ao risco desse investimento!
Para disponibilidade entre três e cinco anos, um investimento mais balanceado com fundos multimercados é o mais recomendado. Ainda assim, observe os riscos – sempre!
Finalmente, para investimentos de longo prazo, principalmente se você for capaz de fazer aportes freqüentes e constantes, preferencialmente mensais, a atual queda das bolsas é uma excelente oportunidade de investimento. Uma vez que a cada queda o mesmo valor adquire mais papéis. É o que chamamos no mercado de “dólar cost average”.
Mas lembre-se, não existe investimento sem riscos e os retornos são diretamente proporcionais aos riscos – quanto maior o retorno, maior o risco. Assim, quando lhe oferecem altos retornos a baixo risco desconfie.

28 outubro 2009

IOF SOBRE INVESTIMENTO EXTERNO DE CURTO PRAZO

Diante da decepcionante notícia de que o Mantega resolveu taxar a entrada de capital externo de “curto prazo”, como especulativo e nocivo para economia. Gostaria de contar uma pequena estória que considero bastante ilustrativa para o caso:
Um gringo chega à um pequeno hotel de uma pequena cidade do interior e pede um quarto. O dono e atendente do hotel lhe informa que a diária é de R$ 50,00. Prontamente o gringo entrega uma nota de R$50,00 ao proprietário e sobe para o quarto. Imediatamente o dono do hotel corre à lavanderia e entregando a nota de 50 diz ao tintureiro:
eis aí o que lhe devia liquide minha dívida, e vai embora.
Em seguida o tintureiro, de posse da nota de 50 corre à farmácia e entregando-lhe a nota diz ao farmacêutico:
eis aí a minha dívida com você, liquide a minha pendência por favor, e vai embora.
Da mesma forma o farmacêutico corre à quitanda e entregando a nota de 50 diz ao quitandeiro:
vim pagar minha dívida, liquide-a por favor.
Finalmente, o quitandeiro corre ao hotel e entregando a nota de 50 ao dono do hotel diz;
vim pagar a diária que lhe devia, favor liquidar minha conta.
Logo em seguida, o gringo desce do quarto e diz ao dono do hotel que não ficaria mais hospedado e que iria embora. O dono do hotel lhe devolve os R$50,00 com o que ele vai embora da cidade.
Essa estória ilustra o que chamamos em economia de Velocidade de Circulação da Moeda, que em outras palavras pode expressar o grau de dinamismo de uma economia.
Agora, prezado leitor me responda:
1.Que mal fez o dinheiro do gringo para essa cidade?
2.Que diferença faz para a cidade a origem do dinheiro?
3.Se o prefeito avisasse ao gringo que ele seria taxado antes de entrar na cidade, isso traria bons resultados para a mesma?
4.O que o prefeito vai fazer com essa pretensa nova arrecadação, você sabe?
5.A economia da cidade está MUITO dinâmica e não queremos isso? Gringos go home?
6.Ou a fome arrecadatória desse Leviatã fica a espreita de qualquer oportunidade que justifique mais uma forma de colocar uns trocados nas mãos de gestores de ocasião?
7.A quem interessa isso? A cidade e aos seus endividados cidadãos é óbvio que não.
8.Quer dizer que a nossa competitividade internacional está atrelada ao cambio? Não é uma exorbitante carga tributária que torna nossos produtos exportadores de impostos? Alguns poderia dizer que isso não é verdade pois há isenção fiscal dos produtos para exportação. Entretanto, não é difícil verificar, e qualquer exportador pode testemunhar isso, que essa isenção é ineficiente na desoneração do efeito cascata que ocorre na estrutura tributária brasileira. Tratar a atual alta apreciação pelo real como responsável pela perda de competitividade do produto nacional (na extinção quase que completa das margens de lucro do exportador) é o mesmo que tratar os espirro e não a gripe, como responsável pela debilidade do doente. Realmente é mais fácil taxar para aumentar a receita, do que buscar maior eficiência da deficitária máquina estatal.
Infelizmente presenciamos mais uma ocasião em que os princípios econômicos e a política andam em direções opostas. Com 37% de carga tributária, qualquer proposta de nova taxação, seja ela qual for, deveria ser repelida como se um vírus maligno fosse.
Gostaria ainda de deixar mais uma pergunta no ar: Se o governo não utilizou todo o orçamento disponível para a saúde, por que deseja criar uma nova CPMF com o argumento de que precisa desse novo recurso para a saúde?

22 outubro 2009

VELOCIDADE DA MOEDA

Diante da decepcionante notícia de que o Mantega resolveu taxar a entrada de capital externo de “curto prazo”, como especulativo e nocivo para economia. Gostaria de contar uma pequena estória que considero bastante ilustrativa para o caso:
Um gringo chega à um pequeno hotel de uma pequena cidade do interior e pede um quarto. O dono e atendente do hotel lhe informa que a diária é de R$ 50,00. Prontamente o gringo entrega uma nota de R$50,00 ao proprietário e sobe para o quarto. Imediatamente o dono do hotel corre à lavanderia e entregando a nota de 50 diz ao tintureiro:
 eis aí o que lhe devia liquide minha dívida, e vai embora.
Em seguida o tintureiro, de posse da nota de 50 corre à farmácia e entregando-lhe a nota diz ao farmacêutico:
 eis aí a minha dívida com você, liquide a minha pendência por favor, e vai embora.
Da mesma forma o farmacêutico corre à quitanda e entregando a nota de 50 diz ao quitandeiro:
 vim pagar minha dívida, liquide-a por favor.
Finalmente, o quitandeiro corre ao hotel e entregando a nota de 50 ao dono do hotel diz;
 vim pagar a diária que lhe devia, favor liquidar minha conta.
Logo em seguida, o gringo desce do quarto e diz ao dono do hotel que não ficaria mais hospedado e que iria embora. O dono do hotel lhe devolve os R$50,00 com o que ele vai embora da cidade.
Essa estória ilustra o que chamamos em economia de Velocidade de Circulação da Moeda, que em outras palavras pode expressar o grau de dinamismo de uma economia.
Agora, prezado leitor me responda:
1. Que mal fez o dinheiro do gringo para essa cidade?
2. Que diferença faz para a cidade a origem do dinheiro?
3. Se o prefeito avisasse ao gringo que ele seria taxado antes de entrar na cidade, isso traria bons resultados para a mesma?
4. O que o prefeito vai fazer com essa pretensa nova arrecadação, você sabe?
5. A economia da cidade está MUITO dinâmica e não queremos isso? Gringos go home?
6. Ou a fome arrecadatória desse Leviatã fica a espreita de qualquer oportunidade que justifique mais uma forma de colocar uns trocados nas mãos de gestores de ocasião?
7. A quem interessa isso? A cidade e aos seus endividados cidadãos é óbvio que não.
8. Quer dizer que a nossa competitividade internacional está atrelada ao cambio? Não é uma exorbitante carga tributária que torna nossos produtos exportadores de impostos? Alguns poderia dizer que isso não é verdade pois há isenção fiscal dos produtos para exportação. Entretanto, não é difícil verificar, e qualquer exportador pode testemunhar isso, que essa isenção é ineficiente na desoneração do efeito cascata que ocorre na estrutura tributária brasileira. Tratar a atual alta apreciação pelo real como responsável pela perda de competitividade do produto nacional (na extinção quase que completa das margens de lucro do exportador) é o mesmo que tratar os espirro e não a gripe, como responsável pela debilidade do doente. Realmente é mais fácil taxar para aumentar a receita, do que buscar maior eficiência da deficitária máquina estatal.
Infelizmente presenciamos mais uma ocasião em que os princípios econômicos e a política andam em direções opostas. Com 37% de carga tributária, qualquer proposta de nova taxação, seja ela qual for, deveria ser repelida como se um vírus maligno fosse.
Gostaria ainda de deixar mais uma pergunta no ar: Se o governo não utilizou todo o orçamento disponível para a saúde, por que deseja criar uma nova CPMF com o argumento de que precisa desse novo recurso para a saúde?

13 fevereiro 2009

CENÁRIO 2009 - Chuvas e Trovoadas

No final do ano de 2007, portanto bem antes da “explosão” da atual crise, publiquei um artigo aqui nesse mesmo jornal, onde apontava para uma crise de dimensões assustadoras. Destacava, nesse artigo, para a necessidade de uma revisão orçamentária e acima de tudo para um planejamento com visão contingencial. Assim como eu, muitos colegas fizeram o mesmo. Mas quando todos soltam fogos de artifícios gritam em pulam eufóricos com um sucesso que parecia dizer-lhes que eram verdadeiros magos do mundo dos negócios, quem vai dar ouvidos à “chatos” que advertem e recomendam maior cautela?
Recente pesquisa publicada na revista Exame mostra que os executivos brasileiros estão despendendo 64% de seu tempo para revisão de planejamento, e que 58% deles está cortando investimentos. Poderiam ter feito isso dois anos atrás.
A atual crise de liquidez fez da gestão de fluxo de caixa o nó gótico das empresas que entendem o atual cenário da economia. A liquidez, que pode ser explicada como a velocidade que podemos transformar qualquer bem em dinheiro, é a grande questão. Explicando melhor: em condições normais, um carro popular é mais líquido do que um carro de luxo ou que um imóvel.
Assim, aqueles que tiveram a coragem de naquele já distante final de 2007, contrariamente ao resto da manada, reduzir a velocidade e contiveram sua euforia, estão seguramente em posição de caixa mais confortável do que os demais.
Hoje dada às condições gerais de mercado, quem tem liquidez pode comprar de forma vantajosa, o que quer dizer também que aquele que está com altos estoques é obrigado a vender de forma desvantajosa.
No final de 2007 eu dizia que o podíamos afirmar apenas que a crise seria de dimensões assustadoras, mas que viria certamente (como veio). Hoje, incrivelmente ainda temos membros da equipe econômica do governo tentando minimizar os reais efeitos da crise no país, postergando decisões que perdem capacidade de mitigação de danos na direta proporção de seu adiamento.
Entretanto, é importante dizer que a única afirmação que podemos fazer no momento é que o sistema financeiro internacional está quebrado. Segundo a Bloomberg, a soma do valor de mercado dos dez maiores bancos do mundo, caiu 52,3% de 2007 para 2009. Há ainda uma nítida migração de poder. Em 2007 os três maiores bancos do mundo eram: o Citi (EUA); o Bank of América (EUA) e o HSBC (Inglaterra). Em 2009 temos: o ICBC (China); o CCB (China) e o Bank of China.
Grandes competidores como Rússia e Índia começam a apresentar sinais claros de despreparo para os tempos atuais. A Rússia vem rompendo de forma preocupante, sucessivos contratos comerciais e a Índia apresenta falta de consistência em sua governança corporativa com exposição de escândalos contábeis em grandes grupos locais.
As reais repercussões da quebra do sistema financeiro internacional sobre a economia real, embora óbvias, não podem ser facilmente dimensionadas. Dependem de uma série de circunstâncias, entre elas a capacidade de resposta de cada mercado nacional. Essa capacidade de resposta envolve a velocidade e a eficácia na implementação de planos de recuperação - no que temos sido pródigos em ineficiência. A morosidade com que nossas autoridades tomam decisões é preocupante!
As autoridades têm se referido à essa crise como sendo apenas uma marola. Mas, vamos avaliar alguns dados:
• O recuo na produção em 25 de 27 setores pesquisados pelo IBGE aliada à queda geral de 12,4% na produção industrial nacional deixa claro o cenário que se configura para o Brasil – a marola está enchendo!
• Ainda segundo o IBGE, o superávit da Balança Comercial, que expressa o saldo do comércio internacional, apresentou o pior resultado desde 2002 com queda de 38,2% – a marola está crescendo!
• As contas do Governo Central apresentaram déficit primário, isto é antes do pagamento dos juros da dívida, de R$ 20 bilhões, sendo este o pior resultado desde 1997 (Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional) – e a marola...
• O nível de emprego na construção civil, setor que tipifica o nível de empregos nacional, caiu 4% em dezembro de 2008 (fonte: SindusCon-SP) – já virou onda não é?
A jurássica CLT, a inexplicável taxa de juros, a ignóbil carga tributária e o absurdo estado da infra-estrutura são figurinhas carimbadas em qualquer discussão sobre as condições de competitividade da economia brasileira.
Entretanto, não podemos simplesmente culpar os congressistas de uma nação por sua falta de resultados nas mudanças legislativas, pois os mesmos são conseqüência direta do nível de exigência de seu próprio povo. Não é verdade?
Como diz o livro dos livros, há tempo para tudo e o momento agora é de muito trabalho e despojamento – pede por uma gestão pública e privada em moldes espartanos.
Já dizia o velho filósofo italiano, mestre da política, Nicolas Maquiavel (1469-1527), que o político devia aproveitar os momentos de alto grau de credibilidade e confiança em seu mandato (alto capital político) para tomar todas as medidas duras de seu governo. Então essa é a hora dos novos Prefeitos, e o próprio Presidente arrancarem os esparadrapos de uma só vez. Façam a necessária limpeza enquanto sua imagem suporta e colham os louros da eficiência fazendo o que melhor sabem fazer – gestão de interesses conflituosos.
Infelizmente, diante da situação atual, projetar cenários é leviandade. O melhor que podemos fazer agora e continuar alertando para tempos difíceis e orientando para a busca de um bom planejamento de caixa.
As velhas fórmulas não funcionam mais. A relação com o passado foi rompida por uma crise que pode ser transformada em oportunidade. A essencial vontade política terá que ser gerada por uma sociedade com alto nível de exigência e com baixo grau de tolerância. A mídia pode e deve exercer papel estratégico na medida em que evolua de mera divulgadora de fatos sensacionais, para acompanhadora de questões de relevância regional e nacional.

22 setembro 2008

ESSA CRISE JÁ FALA PORTUGUÊS

A definição técnica para risco pode ser simplificada como incerteza. Assim, o risco de um investimento é diretamente proporcional ao tamanho da incerteza quantos aos ganhos/perdas envolvidos. Não me lembro de momento recente tão incerto como o que vivemos agora. A crise atual explodiu há pouco mais de um ano e na época escrevi em artigo sobre essa mesma crise que aquilo era apenas a ponta do iceberg. Referia-me ao total desconhecimento geral do verdadeiro tamanho das ameaças que nos rondavam. Assim como na analogia aos icebergs em que não vislumbramos todo seu tamanho, aqui também, vemos apenas o que aflora nos boletins de notícias.
Devemos tomar alguns cuidados nesse momento. Em primeiro lugar, ignorar os profetas de plantão que afirmarão que vai acontecer isso ou aquilo. É chute! O cidadão está buscando seus dez minutos de fama e quer ser entrevistado pelo Jô. Caso acerte, é claro!
NINGUÉM sabe o verdadeiro tamanho do buraco! Como é possível qualquer afirmação sobre o resultado de uma equação que tem mais varáveis desconhecidas do que estrelas no céu? É chute!
Ou seja, afirmações de que nosso sistema está blindado, ou que seus fundamentos são sólidos e passarão pela crise com galhardia, são apenas questões de ofício de uma ou outra autoridade que não pode mesmo dizer o contrário.
Todos sabem que as instituições financeiras não funcionam de forma isolada. Bancos, seguradoras, corretoras e outras instituições financeiras, não são apenas empresas privadas, mas agentes intermediários que pegam dinheiro de pessoas e empresas que estão superavitárias e emprestam a outras pessoas e empresas deficitárias. Essas instituições se relacionam entre si. Em outras palavras, tomam e emprestam dinheiro umas às outras. Caso uma instituição do sistema quebre, deixa de honrar seus compromissos com pessoas, empresas e outras instituições financeiras, afetando assim todo o sistema financeiro. Tal fato gera uma Crise de Confiança.
Como já dissemos muitas vezes, o capital é um animal arisco e covarde e, portanto, além de não ter a menor preocupação com seu legado, não cria raízes. Dessa forma, ao menor sinal de perigo bate em retirada. A atual crise de confiança faz com que esse capital especulativo, que operava na Bolsa, por exemplo, venda seus papéis (a Bolsa cai), pega seus dólares e vai embora (o dólar sobe). Avesso ao risco parte para ativos mais seguros com menor taxa de incerteza e compra títulos do Tesouro Americano (Treasury Bills), que são os ativos de menor risco do mundo, balizando os riscos de outros países.
Os sinais estão aí, não podemos fazer como o comandante do Titanic, que recebeu diversos avisos de que havia icebergs em sua rota e não só não mudou o curso como manteve a velocidade máxima. O resultado de tamanha obstinação todos sabe.
Em seu artigo "Transmission of Liquidity Shocks: Evidence from the 2007 Subprime Crisis" o economista da Universidade de Oxford, Nathaniel Frank juntamente com os economistas Heiko Hesse e Brenda Gonzáles-Hermosilli, ambos do FMI, analisam o modo como a crise espalhou-se tão rapidamente entre os mercados. Consideram que a grande inovação e integração dos mercados financeiros internacionais tiveram o mesmo efeito que a proximidade e interação com uma pessoa gripada pode ter sobre nossa saúde – contaminação rápida. Apontam ainda para fortes evidências de uma quebra estrutural. Isso baseado na averiguação de que parte do capital envolvido na crise do mercado imobiliário veio de outras partes do mundo e não apenas de instituições norte-americanas.
Pergunta-se então nos grandes centros de inteligência econômica mundial, se instituições centenárias que resistiram à década de trinta, como as remanescentes Goldman Sachs e Morgan Stanley, terão que remodelar sua estrutura de captação associando-se a grandes bancos comerciais. Estima-se em US$558 bilhões o montante de títulos a vencer nos próximos quatro meses em poder de grandes bancos americanos e europeus. O que reforça nosso entendimento de que outros canais de captação terão que ser aberto por essas instituições. Esse valor nos leva a acreditar ainda que as nuvens negras que pairam no horizonte somente poderão ser dissipadas com forte intervenção dos Bancos Centrais.
A Bolsa caiu, o que faço, vendo minhas ações? Não. Mas, está todo mundo vendendo, é por isso que está caindo...!!! Pense bem. Se estão vendendo, alguém está comprando! Quem, um bobo, um desavisado? Claro que não! Ao considerar o mercado de ações como investimento você deve avaliar duas coisas. Primeiro você está se tornando sócio de uma empresa. Segundo, não coloque o dinheiro da feira nisso. Apenas invista aquilo que não lhe fará falta no curto/médio prazo. Assim, fica fácil de entender o cidadão que está comprando agora. Ele está se tornando sócio de grandes empresas com um investimento menor do que o previsto inicialmente, uma vez que a ação está desvalorizada. Como se trata de dinheiro que ele não vai precisar agora pode esperar tranquilamente que as ações retomem o seu valor real mais para frente. Pois, se a empresa é sólida isso vai ocorrer cedo ou tarde.
Então, vai haver quebradeira, pânico, correria? Não sei e como disse antes, NINGUÉM sabe! O que sei é que há grande incerteza e, portanto o risco existe. Assim, não é prudente manter a rota e a velocidade como se nada estivesse acontecendo.
Como diz um antigo ditado: "Se há sangue nas ruas, compre ativos". Se nada acontecer, você terá mais alguns ativos para gerar riqueza. Bons negócios!

14 agosto 2008

Inflaction or Not Inflaction, That's the Question

É importante entendermos algumas coisas sobre o processo inflação. Em primeiro lugar que aumento de preço não é inflação. Segundo os compêndios de economia, inflação é aumento persistente e geral dos preços de uma economia. Ou seja, uma gama de preços aumentando sistematicamente. Tal processo gera uma perda no poder aquisitivo da moeda nacional. Como costumo dizer, economia é gestão de recursos escassos diante de necessidades infinitas. Ou melhor, é cobertor curto - se cobrirmos os pés a cabeça fica descoberta. Evidentemente que parte e reparte fica com a melhor parte. Assim, quem mexe o cobertor cobre o que bem lhe convém. Da mesma forma, em qualquer situação econômica, sempre que alguém perde alguém ganha. Mas quem pode ganhar e quem pode perder com a inflação? Todo aquele que vive de rendimentos fixos como salários e aluguéis, por exemplo, perde. Assim como todo aquele que vive de rendimentos variáveis como juros e comissões, ganha. Dessa forma, banqueiros ganham (bom, eles ganham sempre!) e assalariados perdem.
Em segundo lugar, por que eles acontecem. A inflação pode ter várias formas e causas, mas as mais comuns são as inflações de demanda, onde há mais compradores do que vendedores. E a inflação de custos, onde importantes componentes e ou insumos, como o petróleo, sofrem grandes aumentos de preços. Mas, há ainda um componente, normalmente preterido pelos analistas, mas que pode acelerar ou mesmo iniciar um processo inflacionário – as expectativas dos agentes econômicos. Explico melhor. Um lojista que imagina que os preços de seus fornecedores, por alguma razão qualquer vão aumentar, imediatamente aumenta seus preços de vendas. Evidentemente, esse tipo de atitude somente resultará em um processo inflacionário com um nível de contágio alto. Quando falamos de nível de contágio, estamos falando do que parece ser a atual preocupação do governo ao criticar a mídia pela divulgação excessiva, segundo o governo, de dados referentes a aumentos de preços. Nossa percepção de preocupação do governo com contágio é corroborada pela recente atitude do Instituto de Pesquisas Econômicas – IPEA de não mais divulgar estudos de projeção inflacionária trimestrais, segundo o IPEA por ordens do Palácio do Planalto.
Não discordo do entendimento do governo sobre essas questões, de que podem fomentar uma corrida às prateleiras e etc. Apenas questiono se sob o argumento de ser pelo bem maior do país, pode-se privá-lo de informações absolutamente técnicas. Vale lembrar que essas informações são usadas, na sua esmagadora maioria, por acadêmicos e profissionais de empresas no exercício de suas funções profissionais. Esse é um caminho perigoso que atenta contra a liberdade de informações, pois pressupõe que alguém tem poder e sabedoria para saber o que é melhor para todos.
Mas vamos ao que interessa, há um processo de aceleração da inflação afinal de contas, ou não? Os dados publicados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE para o custo da cesta básica em São Paulo: maio/06 R$ 182,95; maio/07 R$ 184,95; novembro/07 R$ 205,48; fevereiro/08 R$ 226,20; abril/08 R$ 227,81 e maio/08 R$ 233,92; mostram claramente uma aceleração dos preços da cesta básica, chegando a um aumento de R$ 30,7% em 24 meses e 26,5% em 12 meses, ou ainda 13,8% nos últimos 3 meses, o que está muito acima das metas de inflação. Então, não estamos falando sobre expectativas ou impressões. Estamos verificando o que está acontecendo com os preços de itens que afetam diretamente o bolso do brasileiro. A nós, pobres mortais, não interessam os preços de commodities ou do “barril tipo Brent”, a maioria de nós jamais se quer viu coisa parecida, nem sabe se é para comer ou para passar no cabelo. Interessa-nos, é o que nos afeta diretamente. Estamos falando da sobrevivência do assalariado. “Quanto sobre de mês no meu salário?” Com milhões de miseráveis “vivendo” abaixo da linha de pobreza, estamos em um país fisiológico, que vota pensando apenas no hoje. Vendo o almoço para pagar o jantar e amanhã...bem, amanhã é outro dia.
Portanto, não vamos perder tempo discutindo se há ou não uma aceleração do processo inflacionário. Isso é fato! A questão agora é saber até onde ele evoluirá. Trata-se de um processo de escala mundial, no qual os preços do petróleo têm influência relevante. Os preços dessa commodity estão sob intenso bombardeio de mega-especuladores que aumentam suas fortunas nas ondas no mercado internacional.
Econometristas do mundo todo procuram avaliar o que se passou para projetar o que virá, mas como fazê-lo com tamanha incerteza na geopolítica mundial? O cenário é incerto, porém com forte tendência à estaginflação – inflação com recessão. Não é ruim, é péssimo! Apertem os cintos, esqueçam os cartões de crédito e não façam novas dívidas, a vítima poderá ser você! Lembram desse slogan? Não estou sendo pessimista, ao contrário. Sabedores da realidade, podemos e devemos nos preparar. Afinal, crise é momento de grandes oportunidades.