19 setembro 2004

Voo de galinha

Costumamos chamar de vôo de galinha um crescimento espasmódico como o da economia brasileira. Isso se concordarmos em chamar os números que aí estão de crescimento. Não há nenhuma surpresa no desempenho medíocre da economia brasileira. O Brasil tem crescido a taxas menores do que a economia mundial de forma sistemática e não apresenta sinais de melhora no curto prazo. Nem poderia. Não existe um plano de crescimento econômico estruturado e implantado. Sem um plano estabelecido o máximo que podemos fazer é uma gestão de oportunidades. Mas, dessa forma não construímos um crescimento sustentável. Estamos apagando incêndios, ou quando muito matando o leão do dia.
São ondas de oportunidades perdidas em âmbito mundial que se refletem de forma perversa internamente. No momento, agricultores que apostaram na exportação de grãos e foram consumidos pela taxa cambial, estão vendo seus empréstimos junto ao Banco do Brasil se transformar em Dívida Ativa da União. A taxa de câmbio é flutuante (híbrida), dizem os tecnocratas do governo, mas a taxa de juros interna respaldada pela Selic do Banco Central, é determinada pelo Copom e incentiva a entrada maciça de capital especulativo alienígena e, portanto, afeta diretamente a taxa de câmbio. Explico melhor: Com a taxa de juros interno maior do que a externa, o capital especulativo (que não constrói nada) invade o mercado e derruba os preços da moeda estrangeira. Ou seja, o governo não regula a taxa de câmbio, mas interfere diretamente na mesma. Houve planejamento? Há crescimento sustentável? Quem se aventura? Isso mesmo, empreender no Brasil está se tornando uma aventura. Há muito que passamos da análise de risco de negócios para análise de espírito de aventura do empreendedor.
O Brasil cresce a taxas abaixo do próprio crescimento vegetativo e além da perda de competitividade internacional começa a ver sua hegemonia fortemente ameaçada. Com o grande cartel bancário instalado no país, estamos promovendo a maior transferência de recursos do setor produtivo para o setor especulativo da história da humanidade sob o olhar complacente de nossas autoridades monetárias. Nossas empresas passam a ser galinhas mortas em termos de preço e, portanto, presas fáceis para as transnacionais.
Na contramão da história, estamos aumentando a participação do Estado na economia, com crescimento insustentável dos gastos do governo com uma insuportável burocracia de controle do Estado sob a atividade econômica. Essa burocracia míope que parte do sentimento congênito de que todos querem fraudar os cofres públicos, até que se prove o contrário. Não são capazes de perceber que uma carga tributária aviltante de mais de 37% passada de forma linear à todos os agentes econômicos, aliada a desprezo ao princípio tributário da simplicidade, criam um verdadeiro país do faz de conta.
Vejam algumas características dos países campeões de crescimento:
• Investimento maciço em educação de qualidade. Observem que é justamente o contrário de “investimento de qualidade em educação maciça”. A Korea, por exemplo, investiu no ensino público de primeiro e segundo grau. O terceiro grau é privado. Estamos precisando formar “doutores” em massa no nosso país?
• Incentivo aos novos negócios. Também é diferente de “os novos negócios do incentivo”.
• Baixa burocracia. Justamente o contrário de “burocracia baixa”.
• Carga tributária simples e em torno dos 20%.
• Baixa participação do Estado na economia. Ops!
• Planejamento de longo prazo, integrado e que transcende mandatos políticos.
• Direito é direito e obrigação é obrigação. Voto (direito do povo de uma nação democrática) obrigatório?
Com algumas variações, esses são pontos comuns entre os campeões e que infelizmente, insistimos em ignorar.
Uma política de geração de empregos que ignora que o emprego surge da geração e crescimento da atividade econômica é no mínimo infantil (senão eleitoreira). A América Latina está tomada por um perigoso surto de populismo que não consegue sequer gerar resultados de curto prazo.
O Brasil está, em termos de modelo de crescimento, um verdadeiro caos. O estudo de modelos caóticos é acadêmico e realmente não gostaria de vê-lo experimentado na minha cabeça. Discutimos casos isolados e pontuais. Não há visão integrada e, portanto, uma gestão que busca maximizar os resultados de raríssimas coincidências de momento.
Uma pena o que está acontecendo com o Brasil. Mas, quem é o responsável? A resposta é muito simples – eu e você. Então, meu amigo, vote consciente e não me diga que não tem nada com isso.
Vamos parar de dizer que Deus é brasileiro e pedir para que Ele abençoe o nosso amado Brasil!