24 outubro 2007

CRESCIMENTO E MEIO AMBIENTE

Algum tempo atrás, mais precisamente no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de maio, li matérias em vários jornais locais, nacionais e internacionais. Assisti ainda, a alguns bons documentários, e terminei o dia pensando de que forma toda essa informação poderia ajudar o cidadão comum a entender melhor o que realmente está acontecendo. De que forma as mudanças no meio ambiente afetam sua vida e de que forma sua vida afeta o meio ambiente. Afinal, nos deparamos com duas visões diametralmente opostas em relação ao meio ambiente. A primeira, mais recorrente, dá um prognóstico tão cataclísmico que nos induz, por absoluta necessidade de evitar o pânico e o desespero, a ignorá-la e naturalmente optar pela outra visão. A segunda, procura amenizar um pouco a situação atual e ainda oferece a benesse de que a tecnologia vai resolver todos os problemas. Infelizmente, no mundo moderno onde você acaba conhecendo um pouco de tudo, sem conhecer realmente nada de verdade – um generalista – , as abordagens são simplistas e tendem a evidenciar apenas os dois extremos de uma mesma idéia. Ou seja, ou é preto ou é branco. Nuances de cinza são peremptoriamente ignoradas.
Não exito um instante sequer em afirmar que a questão ambiental é o assunto mais complexo e de maior importância que a humanidade já se defrontou. Ele afeta à todas as áreas da existência humana e portanto demanda conhecimento holístico e sistêmico. Imagine conseguir consenso sobre um tema vital à nossa existência reunindo numa mesma mesa de negociação advogados, engenheiros, economistas, administradores, médicos, biólogos, zoólogos, botânicos, políticos, brasileiros, argentinos, chineses, líbios, franceses, canadenses, patrões, empregados etc. São milhões de visões diferentes, com interesses diferentes (muitas vezes divergentes) e com graus de motivação diferentes. Dá para imaginar a discussão?
A questão ambiental começou a ser discutida publicamente quando grupos isolados de ecologistas apareceram na mídia defendendo animais em extinção, matas e rios aqui e ali. Eram idealistas e românticos que colocavam sua própria integridade física em risco, mas conseguiam angariar simpatia e apoio por onde passassem. Esses grupos se organizaram, cresceram e acabaram atingindo proporções econômicas, em alguns casos, respeitáveis.
O homem, e sua volúpia de desejos incontroláveis, eram os grandes vilões que faziam o que fosse preciso para conseguir o que queriam, extinguindo espécies e destruindo tudo a sua volta, sem um pingo de remorso.
Essa idéia, apoiada pela máxima de crescer a qualquer custo, tinha como seu oposto a visão, então vigente, de que era mais importante a preservação de determinado rio e seu eco-sistema, do que a sobrevivência das populações ribeirinhas. O mundo seria lindo, limpo e sem o homem para destruí-lo. Poderíamos, segundo essa turma, morar na lua e admirar à distância a beleza da terra.
Mas foi preciso que o idealismo e até mesmo o romantismo desses pioneiros da questão ambiental, plantasse a semente do que hoje é uma das questões mais complexas da humanidade e que afeta sua própria existência.
O homem não é estranho ao meio ambiente, ele é parte do mesmo. A questão ambiental não deve ser encarada como uma restrição à atividade econômica e sim como um componente de continuidade dessa atividade - de sustentabilidade de nossa civilização. Afinal, em ambiente em processo de degradação a atividade econômica é efetivamente refreada. A sustentabilidade ambiental é por conseguinte a própria sustentabilidade da atividade econômica.
A terra está em processo de aquecimento, as geleiras derretendo, o nível do mar subindo, o ar e a água a cada dia mais poluídos, as florestas estão sendo devastadas, as matas queimadas etc. Como tudo isso está acontecendo e como estou contribuindo para esse aparente apocalipse? A resposta para essa pergunta é simples e perturbadora. Simples porque não exige nenhuma qualificação especial para entender e perturbadora porque ela está inserida na essência do nosso modelo de produção e por conseguinte de existência. O consumo, que mantém toda a engrenagem do modelo capitalista funcionando é a origem da degradação ambiental. Quanto mais você consome, não importa o quê, mais é retirado (do estado limpo) e mais é despejado (em estado poluente) no meio ambiente. Para onde foi o último pneu que você trocou, e as baterias do seu celular? Você já visitou um aterro sanitário, um lixão? Devia.
Todos sabemos que a melhor prática de manutenção, tanto em nossas casa quanto em nosso escritórios, é o de que: “se não sujarmos, não precisamos limpar”. Certa ocasião, fiz uma reunião com os funcionários da empresa onde trabalhava , era uma grande loja de departamentos (a maior da época), e ao falarmos de salários e comissões expliquei que o bolo salarial era um só e que a necessidade de pessoas catando lixo pela empresa que os próprios empregados jogavam em lugares inadequados, ou mesmo de fiscais para vigiar atos indevidos, corroíam as possibilidades de melhores ganhos para todos. Atitudes responsáveis beneficiam a comunidade como um todo. Sistemas burocráticos, têm como objetivo evitar ou dificultar falhas/fraudes nos processos de uma maneira geral. Isso é desperdício, isso é consumo desnecessário. E pode ser combatido com mudanças de atitudes. Nossa sociedade tem que dar um basta na “lei do morro” - não ví nada, não sei de nada, não me envolvam. Você ensina seus filhos a “se dar bem” ou a “ser do bem”?
O homem é cheio de surpresas e agora busca os biodegradáveis, a coleta seletiva de lixo, a reciclagem, re-uso e usos inteligentes. Cria leis ambientais e projetos de educação ambiental. O que você faz quando vê uma mensagem no hotel pedindo para você economizar a água? Eu hein! Estou pagando e ainda tenho que me preocupar em economizar água para esses caras? Você lava calçada com a mangueira jorrando água para todo lado? Ou escovas os dentes com a torneira aberta? Não podemos simplesmente parar de consumir. Mas, o desperdício no Brasil ainda é um problema de origem cultural com efeitos nefastos em nosso bem-estar. Em nosso cotidiano, sem perceber, estamos desperdiçando o que poderia fazer a diferença em um futuro próximo. Simples mudanças de hábitos, são atitudes que podemos tomar imediatamente sem comprometer nosso estilo de vida. Não precisamos ficar esperando por programas mirabolantes do governo ou de quem quer que seja, para começarmos a mudar o ambiente em que nossos filhos vão viver. Lembrem-se que a água já foi um bem gratuito.

21 outubro 2007

COPOM x Crescimento

A semana foi tomada pela já habitual discussão mensal sobre a decisão do COPOM, manteriam ou aumentariam a CELIC?
De um lado os defensores da redução dos juros em prol do crescimento econômico. De outro, os defensores de uma política mais cautelosa pela estabilidade de preços.
Os economistas, não raro, se acham revestidos de um conhecimento que lhes dá ares superiores e muitas vezes misteriosos. Dominadores e doutos da Ciência Econômica têm todos uma única opinião consensual – entre si, não concordam em nada!
O COPOM em última instância está atento às metas de inflação e, portanto buscando mantê-la dentro do esperado. E aí já começa a discussão. Tomam-se decisões exclusivamente em relação a política monetária e mais especificamente em relação às metas de inflação. O “foco” do BC acaba por desconsiderar outras necessidades do país. Imagine um médico que diz ser responsável apenas pelo controle da febre, sem tomar conhecimento do estado geral do paciente. Se ele estiver em processo de inanição ou aneroxia, isso não importa a esse médico, não é função dele... Assim é o BC, não tem maiores preocupações com o Brasil como um todo. Em crescente pujança ou aneróxico? Não importa isso não é com ele.
De qualquer forma, o ponto central da decisão do COPOM, a eventualidade de uma inflação de demanda nem de longe é unanimidade entre os economistas. Acreditam alguns que o Brasil pode crescer até 4,5% sem qualquer aceleração da inflação. Afinal o IPCA de setembro de 0,18% não pode assustar ninguém. Entretanto, é bom ressaltar que já existe gente falando que, dado o volume atingido, o financiamento de veículos novos e usados vai ser o nosso sub-prime.
Infelizmente o Brasil insiste em andar na contramão da economia mundial. A manutenção da taxa SELIC, pode ser ainda mais perversa aos anseios do setor produtivo, caso o Federal Reserve – FED, Banco Central norte-americano resolva, como é provável, cortar ainda mais a taxa de juros norte-americana. Teríamos nesse caso, uma supervalorização do real frente à moeda americana com prejuízos consideráveis ao setor produtivo nacional. Uma verdadeira inundação de dólares.
A quem isso interessa?