19 junho 2007

Gestão de Curto Prazo - Miopia Tupiniquim

Quando falamos em gestão de grandes negócios estamos falando de organização, planejamento e controle de uma infinidade de atividades que interagem de forma complexa e sistêmica. É por definição, um processo de longo prazo. Para tal, não podemos ignorar a questão estratégica que determinará as metas e os objetivos básicos do empreendimento e a conseqüente adoção de cursos de ação e de alocação dos recursos necessários para realizá-las.
O empreendedor de sucesso determinará suas metas, de acordo com sua capacidade empresarial. Avaliando recursos disponíveis, capacidade de alavancagem e cenários possíveis. Dessa forma, o longo prazo e as principais políticas envolvidas determinarão as questões relevantes que o empreendimento enfrentará. Suas decisões deverão espelhar um comportamento consistente em toda a organização. Sabemos que uma vez estabelecida, a estratégia não é facilmente revertida. Pois um plano estratégico coerente molda a persona competitiva da empresa.
De maneira geral a análise estratégica pode ser abordada de várias formas:
• Sob a perspectiva da teoria dos jogos matemáticos, onde buscamos descobrir a lógica das escolhas dos vários jogadores (players);
• Sob a perspectiva psicológica, focalizando as motivações e os comportamentos dos indivíduos tomadores de decisão;
• Ou ainda sob a perspectiva organizacional, da ciência política ou mesmo da antropologia.
Todavia, é fato afirmarmos que o conhecimento aprofundado da disciplina, nos permite formular hipóteses refinadas e poderosas para o desenvolvimento de estratégias eficazes.
A ciência econômica possibilita que o analista seja explícito sobre os elementos-chave do processo considerado. Modelos Econômicos têm sido eficazes ao identificar com cuidado acurado questões relevantes ao planejamento estratégico:
1. Quem são os jogadores que efetivamente ditam as regras?
2. Que decisões são “fixadas” na situação em questão?
3. O que os tomadores de decisões estão buscando? Maximizar lucros ou firmar posições?
4. Quais as ações que estão sendo consideradas e quais suas variáveis estratégicas?
5. Qual o horizonte de tempo a ser considerado?
6. Que mecanismo é utilizado para traduzir decisões específicas em resultados específicos?
Mas, o que acontece quando analisamos a gestão pública em geral? Levamos em conta os mesmo princípios de gestão empresarial? Podemos considerar a gestão pública como um empreendimento? Claro que sim! Na verdade, a gestão pública é um empreendimento de escala nacional características específicas da coisa pública. Podemos simplificar da seguinte forma: O empreendimento privado tem como objetivo o lucro e o empreendimento público tem como objetivo o bem-estar social. No mais, estamos falando de eficiência!
Tenho certeza que você já deve estar imaginando como isso acontece na Empresa Brasil.
Imagine o Presidente da República como semelhante ao presidente de uma grande empresa. Como esse último que sofre pressão dos acionistas cobrando resultados. O Presidente da República sofre pressão do povo, dos eleitores em última instância. Seus ministros são como diretores executivos especializados em suas áreas de atuação e os funcionários públicos são os gerentes e os braços dessa organização de dimensões gigantescas. O Congresso é o Conselho de Administração que representa na empresa privada, os interesses dos acionistas.
Ih, será que isso funciona? Tem que funcionar, pois é esse o modelo que escolhemos pelo voto e que está estabelecido na Constituição.
Por isso é tão importante essa discussão que não está tomando a importância devida sobre o tempo de mandato e da reeleição. Como vimos anteriormente, planejamento é coisa de longo prazo e de continuidade. Ou seja, qualquer planejamento sério deve ter coerência entre prazo (que tem que ser longo) e continuidade para ser minimamente sustentável.
E o que vemos proposto no Congresso? Uma proposta para acabar com a possibilidade da reeleição! A explicação que dão para essa proposta é no mínimo curiosa. Dizem que os candidatos da situação levam vantagem sobre os demais candidatos. E daí? Se isso for mesmo verdade (há controvérsias), vamos criar um problema para resolver outro? Se, eu como eleitor, quiser (hipoteticamente) dar meu voto em favor da situação é porque acredito que é o melhor e pronto! O que tem de errado nisso? Vamos dar fim a um processo de gestão com um projeto interessante, para que a eleição seja competitiva? Nós sabemos que a primeira coisa que um novo ocupante de cargo político faz é dizer que tudo que o seu antecessor fez foi uma droga e que ele vai mudar tudo. Só aí, para desfazer, já vai um ano e muito dinheiro público (nosso) jogado fora.
Então qual a solução? Em primeiro lugar vamos separar os funcionários públicos de carreira dos políticos que ocupam cargos na gestão pública. Em segundo lugar vamos ampliar, aprofundar e acelerar a estruturação organizacional dos processos de gestão pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Planejamento Plurianual (PPA) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) são embriões fundamentais à blindagem da coisa pública aos desvios de interesseiros e oportunistas de plantão. Dessa forma, a proposta em votação, sem a contrapartida de mecanismos de gestão e controle que tornem projetos de longo prazo blindados às vocações políticas de momento, é um retrocesso na gestão pública brasileira.
Gestão pública é uma questão de escolha – o que fazer com os escassos recursos disponíveis? Uma ponte ou um hospital? Estradas ou ferrovias?
A máquina governamental deve ser eficiente na execução de suas atividades e o poder executivo deve ser criterioso nas escolhas a serem feitas. Planejamento criterioso deve ser feito para dar início e prosseguimento a projetos de interesse nacional e estes não podem estar sujeitos a humores de ocasião. A implementação desses projetos vai demandar um corpo de funcionários públicos competentes e comprometidos de forma independente de posicionamentos políticos individuais.
Vemos então, que tecnicamente (e na falta de instrumentos administrativos eficientes e amplamente implantados) é desejável um mandato mais longo e com possibilidade de reeleição. Justamente o contrário do que está sendo proposto no Congresso nesse momento. Mas, quem está discutindo isso?