14 agosto 2007

ESSA CRISE AINDA NÃO FALA PORTUGUÊS

A globalização já não é mais assunto para discussões infindáveis repletas de ideologias e paixões, é um fato que deve ser aceito e entendido. Há muito pouco tempo atrás, nações do mundo inteiro desenvolviam e implementavam mecanismos de manutenção de sua hegemonia político-econômica. A globalização trouxe uma nova abordagem para esse tema. A partir de agora passamos a buscar não mais como evitar e sim em como lidar com a inexorável perda de hegemonia diante da internacionalização do mercado de capitais. A participação do capital internacional, sua entrada e saída, é tão expressiva que torna o mercado doméstico não só dependente como principalmente, vulnerável às suas oscilações de humor. Dessa forma, variáveis exógenas, ou seja externas ao sistema em questão, têm em muitos casos, maior poder de afetar o mercado doméstico do que fatores internos.
A Bolsa de Valores na semana passada, apresentou inesperada queda de mais de 8%. Inesperada? Nem tanto! Para alguns Analistas Técnicos mais atentos, desde meados do mês de abril, havia fortes indicações de que essa tendência de alta sofreria um revés.
Mas, e quem foi pego comprado (com ações em mãos) pela queda na Bolsa, deve vende e realizar esse prejuízo de 8% vendendo logo antes que caia mais, ou deve aguardar que seus papéis voltem aos níveis de preços anteriores? Depende da ação que você tem em mãos. Se for de uma empresa com bons fundamentos econômicos, não vejo por que acreditar em uma tragédia. Evidentemente, o contrário também se confirma. Se você estiver de posse de uma ação que não possua bons fundamentos econômicos, as chances de que essa empresa seja atingida pelo nervosismo de mercado é grande. O efeito manada está aí mesmo.
O mercado de ações, é seguramente o melhor exemplo, e talvez o único, de uma economia de concorrência perfeita, onde as forças de compra e venda determinam os preços, sem outras interferências. Dessa forma, é bastante sensato olhar para esse mercado como um indicador do que está realmente acontecendo na economia como um todo.
E o quê esta´acontecendo afinal? Economista apontam para uma crise de liquidez resultante de um longo período de ganância do capital especulativo. Buscaram por um período maior do que o habitual por maiores ganhos, expondo-se consequentemente a maiores riscos. Até o momento o problema parece estar restrito à economia nominal e não há contaminação da economia real. Porém, a aversão ao risco aumentou e o perigo de haver uma corrida aos bancos não pode ser desconsiderada. Mas não estou falando de Brasil, OK?. Por isso os Bancos Centrais entraram no mercado garantindo que os bancos honrem seus compromisso. Como fazem isso? Comprando títulos que os bancos tenham em seu poder. Assim, o banco troca papel (título) por dinheiro, e estes podem cobrir os saques de seus clientes. Entretanto, nas três intervenções até então ocorridas, o FED, que é o banco central americano, a oferta de recursos do FED foi menor do que a demanda dos investidores. O banco central suíço tem oferecido recursos a taxas inferiores às taxas de mercado. O japonês e o australiano têm colocado mais recursos no mercado que o habitual temendo que as taxas de curto prazo saltem à níveis indesejáveis. O euro atingiu a menor cotação frente ao iene dos últimos três meses.
Tudo isso sinaliza ao mercado que realmente existe um problema sério ligado à liquidez, o que pode se refletir na economia real (produção) pela queda de consumo.
Na verdade, os BC's procuram conter o aumento dos juros interbancários por conta das perdas de alguns fundos em operações de crédito imobiliário de segunda linha, os subprimes, nada mais são do que uma linha de crédito a pessoas sem comprovação de renda. Na verdade, teme-se que a crise se estenda para mercados de primeira linha também, uma vez que muitos empréstimos nesses mercados foram concedidos tempos atrás com taxas de 1% ou 2% e estão sendo ajustados pela taxa vigente de 5,25%. Criando com isso volume preocupantes de inadimplência. Assim, o valor do imóvel, que está em queda, passa a ser menor do que a dívida financeira (sem financiamento adequado a procura por imóveis cai e por consequência seus preços).
Não podemos esquecer, que o capital especulativo é um animal arisco, agressivo e acima de tudo covarde. Procura por galinhas mortas e foge ao menor sinal de perigo. Pessoalmente concordo com o Ministro Mantega quando diz acreditar que essa crise pode reverter a favor do Brasil. Explico melhor, uma vez que os investidores percebam que nos fundamentos de nossa economia reside maior segurança, aliada a uma remuneração maior do que a média do mercado internacional. Na verdade, nossa pequena dívida externa e o bom nível de reservas externas, funcionam como uma blindagem à toda essa crise. A expectativa é fechar 2007 com US$ 30 bilhões em investimento externo. Vale lembrar ainda, que atingimos US$ 10,32 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto – IED no mês de junho, um recorde. Imagine a grandeza desse número, pois a média dos últimos 5 meses foi de apenas US$ 2,11 bilhões.
Podemos entender que no caso brasileiro, não há motivos para qualquer atitude mais radical. Não há até o momento, quaisquer indícios de reflexos dessa crise na economia real brasileira. A economia brasileira apresenta agora, uma situação que deixa o mercado razoavelmente tranquilo. É claro que sempre existem os oportunistas de plantão que não exitam em se utilizar da mídia sensacionalista para criar situações de insegurança e medo. O efeito manada é filhote desses alarmistas e pode ser devastador para a credibilidade das instituições envolvidas.

Nenhum comentário: