17 agosto 2007

SENADO BRASILEIRO - Uma vergonha nacional

A questão da alegada governabilidade não me parece legítima, uma vez que questões macroeconômicas não se fazem sentir no curto prazo. O PIB, os resultados da balança comercial ou a dívida pública, por exemplo, não são construídos no curto prazo. O que responde no curto prazo é o mercado especulativo e esse, pelo menos no volume que importa, é muito mais uma questão de capital internacional do que doméstica. Dessa forma, a discussão que realmente interessa é: Que país é esse? Que país queremos legar aos nossos filhos? Um país de frases pobres de valores e princípios tipo:
o Os fins justificam os meios;
o Rouba mas faz;
o Errado mas todo mundo faz;
o Lei de Gerson (pobre Gerson...).
É preciso, de uma vez por todas, pensarmos o Brasil como uma nação baseada em valores e princípios reais e aderentes ao nosso povo e cultura. E não faremos isso com uma visão míope de curto prazo.
Normas, regras e leis são formas reduzidas de expressar desejos e anseios maiores de uma nação. E para que sejam genuínas e consistentes é preciso que estejam apoiadas em princípios e valores. A nossa Constituição exprime com muita clareza esses princípios em seus primeiros 4 artigos. No Título I “Dos Princípios Fundamentais” o artigo 1º define que a República constitui-se de Estado democrático de direito e fundamenta-se em:
o soberania;
o cidadania;
o dignidade da pessoa humana;
o valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
o pluralismo político.
No artigo 3º define os objetivos fundamentais da República:
o construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
o garantia do desenvolvimento nacional;
o erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais.
Os tópicos acima estão na primeira página de nossa Constituição e parecem esquecidas e ou desconhecidas de governantes e governados. São questões cruciais e com força de lei. Mas, para que sejam concretizadas é preciso planejamento consistente e firmeza de propósitos. Porém é questão pertinente ao seu sucesso, a capacidade e integridade de seus gestores. Não é possível pensar o longo prazo com foco em questões pontuais. Trata-se de um projeto de construção de uma grande nação. Grande em qualidade de vida, de respeito ao cidadão e acima de tudo baseada em um Estado de Direito.
O caminho que países bem sucedidos escolheram foi o investimento maciço em educação. Mas, como vamos ensinar às gerações futuras sobre cidadania, dignidade ou ainda sobre valores, se pensamos em admitir pequenos pecados em prol da governabilidade?
Não vamos construir uma nação digna para nossos filhos perdendo a referência entre o certo e o errado. Vamos orar à noite com nosso filho e pedir: perdoa-o, pois ele não sabe o que faz? Ou ruim com ele, pior sem ele? É assim que pretendemos construir um país melhor?
Um povo sem indignação perante essa lama é um povo sem esperança e um povo sem esperança é um povo sem futuro. INDIGNA NAÇÃO
A sátira política e a piadinha sobre os absurdos praticados pelos donos do poder têm seu momento mais fértil na ditadura, onde sobre o poder das armas só nos restava a fuga para o jocoso. Não estamos, porém, sob o poder das armas. Estamos sob o poder da impunidade da maior fábrica de pizzas da história. Onde os pizzaiolos vão assando as pizzas, olhando pelas janelas do congresso e avaliando o que pode ser digerido pelo populacho.
É preciso ficar atento, pois os interessados (não no bem-estar da população é claro!), são mestres em desviar o assunto e acusados e acusadores são farinha do mesmo saco em rodízio perpétuo de cadeiras.
Como será que o Seu José, não é o Dirceu, ou a Dona Maria, ali da esquina, vêem o que está se passando? O que será que eles dizem e ensinam aos seus filhos? Estudem sério e trabalhem duro que vocês terão sucesso, ou sejam espertalhões? Estão vendo uma fila de espertalhões que metem a mão no alheio e depois, quando muito, perdem o mandato. Mas, pior ainda, podem renunciar e voltar depois como se nada tivesse acontecido. A memória do povo é curta ou é manobrada?
E a discussão é desviada para a governabilidade. Ora, como podemos encobrir toda essa sem-vergonhice com governabilidade? É tanta crendice que vamos acabar temendo que o céu caia sobre nossas cabeças! Vamos discutir isso também?
Para não perder a viagem vou falar mais uma vez da carga tributária. Diz-se abertamente, aos quatro cantos, que a carga tributária é insustentável. Mas essa, a carga tributária, só aumenta e por isso há informalidade (neologismo de sonegação). É o joguinho do me engana que eu gosto ou do deixa que eu deixo?
E ainda tem revista semanal investindo, há várias edições, em provar que isso também acontecia no governo anterior! É o famoso “todo mundo faz, então...”. Estamos perdendo o prumo com discussões vazias que só interessam aos oportunistas de momento. É redundante e é sério, muito sério!
Perdemos o rumo, não temos objetivos e não há compromissos. A pobreza aumenta, as desigualdades batem recordes e a cidadania é profanada em todos os aspectos possíveis. Governabilidade?
Os Princípios Fundamentais da República são de faz-de-conta?
Então governabilidade para quem cara-pálida?

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