19 junho 2006

MODELO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

Em 1989, no auge dos governos Reagan e Tatcher, reuniram-se em Washington, convocados pelo Istitute for International Economics, diversos economistas latino-americanos, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-americano. O que ficou conhecido como o Consenso de Washington, teria inicialmente, um caráter acadêmico, mas, acabaou tornando-se o receituário imposto pelas agências internacionais aos países que quisessem empréstimos. Dessa forma, FMI e demais agências incrementaram a monitoração – nome politicamente correto para uma ação politicamente incorreta de ingerência nos assuntos internos dos países pobres – das alterações “modernizadoras”.
Mas, como explicar, que as economias que seguiram esse receituário mágico, notadamente América Latina e África Subsaariana tiveram crescimento pífio em comparação à Coréia, China e Índia que adotaram modelos frontalmente diferentes?
Na verdade, o Consenso de Washington faz parte de um conjunto de reformas neoliberais que está centrado doutrinariamente na desregulação dos mercados, abertura comercial e financeira e redução do papel do Estado na economia. Infelizmente, essa proposta faz sentido para economias maduras onde o estado de bem-estar está devidamente concretizado e não onde os direitos sociais e a distribuição de renda são contos de fadas. Onde o Estado não tem servido historicamente aos interesses das classes dominantes.
O aumento do desemprego e a queda do rendimento real médio brasileiro é o maior dos últimos 15 anos. Tal fato, além das sérias repercussões na indústria e na economia (retração do mercado consumidor nacional), trazem em seu bojo o sentimento de “fim do sonho” de um governo de base popular que governa para o povo. Poderíamos falar ainda do baixo crescimento, do câmbio pouco competitivo e volátil, do crédito escasso e caro, da vulnerabilidade externa e da baixa taxa de investimentos. Mas, seria uma abordagem apocalíptica demais...
Enterrado o mercado nacional, só nos resta o mercado internacional. O ano de 2003 foi pródigo no setor externo. Foi realmente expressivo o ajuste realizado pela economia brasileira nos últimos dois anos. A conta corrente do balanço de pagamentos registrou saldo de 0,8% do PIB, contra um déficit de 1,7% em 2002 e 4,6%, também negativo, em 2001.
Esses resultados ainda não se traduziram de forma significativa nas reservas internacionais e na dívida externa. As reservas internacionais líquidas continuam na faixa dos US$ 21 bilhões e a dívida externa de US$ 220 bilhões representa 44,8% do PIB e 307% das exportações. Assim, só o pagamento de juros da dívida externa brasileira consomem 20% das exportações. O que é um percentual duas a três vezes maior do que o da maioria dos países emergentes. E é essa vulnerabilidade externa que não nos deixa outra saída além das exportações.
Com a safra de grãos que era a grande aposta, prejudicada pelas chuvas, teremos que voltar nossas expectativas a outros setores. A indústria brasileira como um todo está em recuperação, mas um segmento que tem peso elevado na indústria em todas as regiões do país e é grande empregador – que produz bens de consumo semiduráveis e não duráveis (alimentos, vestuário, utensílios domésticos, mobiliários, etc) – ainda se encontra em recessão. Isso vem ditando a lentidão e os tropeços da produção industrial. A recessão que permeia a economia, gera desemprego, que gera queda de consumo que gera queda de produção que gera desemprego.
Este círculo vicioso pode ser rompido, e não precisamos ressuscitar Keynes para isso. É necessário que os segmentos que vem liderando a recuperação, bens de capital e bens de consumo duráveis, cresçam com maior intensidade do que o que vem ocorrendo e que o emprego seja impulsionado por políticas dedicadas. Não necessariamente políticas macroeconômicas de juros, câmbio e fiscal. Parece que o Brasil perdeu a capacidade de pensar políticas pontuais. Que tal entender o programa “moderfrota” da agricultura para a indústria com o programa “moder-máquina” e potencializar o crescimento do setor de bens de capital? O que dizer de uma redução significativa no spread bancário? O Banco do Brasil e a Caixa Econômica podiam dar a partida, e o exemplo! A taxa Selic está em 16,25% ao ano, mas, o cidadão comum desconhece essa grandeza um vez que paga juros dez vezes maiores que isso. Ou ainda um programa decente de habitação popular para estancar a forte retração do setor que mais emprega no país?