19 maio 2005

O OTIMISTA DIRIA QUE HOJE ESTÁ MELHOR DO QUE AMANHÃ

Para discussão de assunto tão figadal temo cair em VDI (Volúpia de Desejos Incontroláveis), pois recomendar o uso de sapatos apertados para uma longa caminhada não me parece uma idéia muito popular. Mas, é importante perceber que taxa de juros é uma questão técnica que deve resistir aos aspectos políticos. Há que ser criado um escudo econômico que nos dê maior imunidade externa antes de qualquer coisa.
A atual estratégia, que envolve técnicas sofisticadíssimas de tentativa e erro, de apertar mais um pouquinho e ver o que acontece, nos expõe ao risco da falência do sistema produtivo nacional de graves conseqüências sociais e deveria ser evitada. Mas, querer e poder são duas coisas distintas e no caso dos juros não é diferente.
Em primeiro lugar, devemos entender a taxa básica de juros como um indicador das expectativas econômicas. Quando o COPOM anuncia uma queda está na realidade sinalizando expectativas positivas em relação à economia brasileira. Com a grande vulnerabilidade externa de nossa economia, uma vez que nossa dívida externa já representa 44,8% do PIB e as nossas reservas nivelando em US$ 21 bi, podemos dizer que o cenário internacional é fator crucial nas decisões do COPOM. Esse mesmo cenário que apresenta sinais de deteriorização acelerada com os picos de preços do petróleo e o agravamento da instabilidade no Oriente Médio.
Em segundo lugar, um indicador, como o próprio termo indica, é apenas um indicador e não uma meta em si. A discussão sobre qual a temperatura ideal para o doente, não deve obscurecer a questão principal: como curar o doente. A febre está alta porque há uma infecção no pobre do enfermo. Assim como os juros, que estão altos por uma série de razões que transcendem o simples desejo de fulano ou beltrano.
Os juros altos na economia brasileira sem controle de entrada e saída de capital, são atraentes ao capital especulativo, o primeiro, diga-se de passagem, a bater asas quando do esperado aumento nos juros americanos, explicam os indecentes lucros auferidos pelo sistema financeiro, bem como as imorais taxas de crescimento dos mesmos lucros se comparados com a média dos outros setores da economia.
Então por que mantemos os juros altos? Porque não existe alternativa, no curto prazo, à nossa atual necessidade de financiamento. Então é uma política de alto risco? Sim. Como disse antes não se trata de querer ou não, gostar ou não. Não tem outro jeito. Na realidade, uma análise do cenário atual, abre até a sombria possibilidade de um aumento na taxa de juros.
Argumentos do tipo: prejudica o crescimento; aumenta o desemprego incentiva o capital especulativo etc, são verdadeiros mas a recíproca não é inteiramente verdadeira. Essa relação não guarda transitividade, diriam os cartesianos. Baixar simplesmente a tava de juros, não garante crescimento, emprego ou qualquer outra coisa. Política Econômica não é carrocinha de pipoca que você coloca milho de um lado e tira pipoca do outro. Tem que ser planejando e com visão de longo prazo, de sustentabilidade. As mazelas que sofremos hoje, não são conseqüências de ontem. Foram constituídos, não cabe aqui o termo construído, ao longo de um período maior.
Não se trata de defender juros altos, mas não há, no curto prazo, outra saída. É urgente a definição de um Programa Econômico forte e consistente de recuperação da economia. Os cenários são preocupantes e não estamos preparados para eles. A carga tributária é excessiva, não existe controle de capitais, a infra-estrutura de transportes está uma calamidade e o desemprego já é o maior dos últimos 15 anos.
O dólar dispara, o risco Brasil volta a subir, a OPEP volta às manchetes mundiais e o que você gostaria de fazer, apostar tudo no “vermelho 15”?

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