20 março 2005

SOMOS AUTO-SUFICIENTES EM PETRÓLEO

A primeira coisa que vem a nossa cabeça é que os preços vão baixar. Mas não é isso que está acontecendo, por quê? Eu poderia encher esse artigo com dados estatísticos e informações diversas sobre a oferta e a demanda de petróleo. Ou mesmo com pareceres técnicos de "especialistas" sobre as estruturas de custos e preços desse mercado. Mas vou poupá-los dessa chatice e me posicionar como mais um cidadão indignado com o que vem ocorrendo em nosso amado Brasil.
Parece que vivemos em uma ciranda que por mais que lutemos sempre retornamos ao ponto de partida. A sensação é de que patinamos e esperamos pelo pronunciamento pomposo de algum economista: "Mais uma década perdida!" Até quando vamos conviver com isso? Afinal o que faz essa ciranda manter-se rodando dessa forma?
Se pensarmos um pouco vamos perceber que existem várias perguntas sem respostas nessa nossa brincadeirinha de roda:
1. Por que um direito constitucional, o voto, é obrigatório?
2. Por que o voto no Congresso Nacional é secreto?
3. Por que para ser advogado, médico, engenheiro, economista, administrador etc., é preciso estudar e para ser político não precisa?
4. Por que a arrecadação do governo cresce, mas os serviços públicos só pioram?
5. Por que os lucros dos bancos atingem níveis indecentes e o povo não tem crédito?
6. Por que a Selic está caindo, mas os juros do cheque especial, hoje em torno de 9% ao mês, não estão?
7. Por que o rendimento da poupança é de menos de 1%?
8. Por que temos em Goiânia uma das gasolinas mais caras do Brasil?
9. Por que o Orçamento de um ano só é aprovado no meio do ano seguinte?
10. Quem está sendo omisso?
11. Quem está compactuando?
12. A quem interessam todas essas questões?
Há alguns dias eu dizia que o Brasil estava se tornando uma Venezuela. Não em relação aos bons aspectos desse país irmão. Mas em relação aos seus piores aspectos, que fazem parte apenas da sua história mais recente. Líderes populistas e verborrágicos que administram o país como quem administra um jogo de peteca no clube. Tomam decisões sobre assuntos estratégicos, que têm efeitos de longuíssimo prazo, preocupados apenas com seus impactos de curto prazo nas urnas. Líderes que banalizam escândalos e se afirmam ignorantes ao que acontece em seus palácios. Líderes que se cercam de asseclas amorais e que desconhecem o significado de ética e bons costumes.
Quando os líderes de uma nação perdem o sentido de moral, ética e bons costumes. Quando os líderes de uma nação perdem o sentido do que é ser um servidor público. Quando os líderes de uma nação perdem o sentido do que é ser representante do povo que o elegeu, o que resta a essa nação?
Comemorar o crescimento pífio do PIB ou das exportações, quando o Brasil está perdendo competitividade no comércio internacional é trágico. O que vai acontecer no momento em que a exorbitante taxa de juros brasileira não for mais atraente ao capital especulativo internacional?
O Brasil é refém do sistema financeiro internacional e não parece ter vontade política para mudar isso. Temos a impressão de que antes da definição de quem será o próximo Presidente da República, já se está definindo quem será o próximo Presidente do Banco Central.
Estamos sempre sujeitos a ouvir como resposta à pergunta inicial uma outra pergunta: e daí que somos auto-suficientes? Trata-se de uma resposta de quem não está nem aí para com os problemas do seu interlocutor. Hoje é Domingo de Páscoa, mas comemorar essa data com a vinda do coelhinho que nos traz ovos de chocolate é tão enganoso e alienado com fingir que está tudo bem e que o no futuro tudo se resolve. O que o cidadão deve fazer com todas essas perguntas aí de cima? Ele também pode comer pizza e ficar resmungando pelos cantos. Ou pode pegar o seu título de eleitor e buscar uma mudança de paradigmas. Pode parar de, na falta de um representante que atenda suas reais expectativas, votar no candidato que é contra o que ele menos deseja (voto útil). Isso não muda nada e não sinaliza nada. Fica perdido na multidão. "Menos pior" seria, nessa situação, o voto nulo. Que não muda muita coisa, mas sinaliza uma insatisfação com o status quo.
Não faço aqui apologia ao voto nulo, mas ao direito, no seu sentido stricto, de votar conforme minhas convicções, mesmo que seja ela a de não votar.
Você deve estar se perguntando, o que tem tudo isso a ver com o preço da gasolina? Acredito que tudo, pois demonstra toda uma estrutura forjada ao gosto do freguês, que não somos nós é claro!
Os americanos, povo anglo-saxão pródigo em pragmatismo, utilizam o termo accountability, que por sinal está presente em toda instrução de procedimentos que utilizam, para designar quem é responsável pelo o quê. Com votações secretas, declarações cínicas de desconhecimento total dos fatos e imunidade parlamentar, fica difícil encontrar responsáveis. Está tudo arranjado para que nada se resolva. Aqui no Brasil, ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém sabe de nada...Responsabilidade? Esquece!
Felizmente o Ministério Público está isolado disso tudo e pode dar uma demonstração à nação de que as coisas não são bem como querem alguns. Vamos ver.
Perguntaram-me noutro dia se a questão econômica era recuperável pelo menos no médio prazo. Disse que sim, mas que o mal estava feito na questão da cidadania. Teremos muito trabalho em ensinar aos nossos filhos moral, ética e bons costumes. As notícias de uma maneira geral e os temas das novelas, abordados cruamente e de forma amoral, entram em nossas casas sem pedir licença e deturpam o caráter ainda imaturo de nossos jovens.
Todas essas coisas têm efeito no preço da gasolina brasileira sim, porque afetam e alteram as nossas reações. O jovem é vitimado pela confusão do que é certo e errado, do que é aceitável e do que é justificado pelos fins.
O objetivo não é aceitável, não é certo, se foi atingido por meios escusos!
Faça uma oração e tenha uma boa Páscoa!

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