13 fevereiro 2009

CENÁRIO 2009 - Chuvas e Trovoadas

No final do ano de 2007, portanto bem antes da “explosão” da atual crise, publiquei um artigo aqui nesse mesmo jornal, onde apontava para uma crise de dimensões assustadoras. Destacava, nesse artigo, para a necessidade de uma revisão orçamentária e acima de tudo para um planejamento com visão contingencial. Assim como eu, muitos colegas fizeram o mesmo. Mas quando todos soltam fogos de artifícios gritam em pulam eufóricos com um sucesso que parecia dizer-lhes que eram verdadeiros magos do mundo dos negócios, quem vai dar ouvidos à “chatos” que advertem e recomendam maior cautela?
Recente pesquisa publicada na revista Exame mostra que os executivos brasileiros estão despendendo 64% de seu tempo para revisão de planejamento, e que 58% deles está cortando investimentos. Poderiam ter feito isso dois anos atrás.
A atual crise de liquidez fez da gestão de fluxo de caixa o nó gótico das empresas que entendem o atual cenário da economia. A liquidez, que pode ser explicada como a velocidade que podemos transformar qualquer bem em dinheiro, é a grande questão. Explicando melhor: em condições normais, um carro popular é mais líquido do que um carro de luxo ou que um imóvel.
Assim, aqueles que tiveram a coragem de naquele já distante final de 2007, contrariamente ao resto da manada, reduzir a velocidade e contiveram sua euforia, estão seguramente em posição de caixa mais confortável do que os demais.
Hoje dada às condições gerais de mercado, quem tem liquidez pode comprar de forma vantajosa, o que quer dizer também que aquele que está com altos estoques é obrigado a vender de forma desvantajosa.
No final de 2007 eu dizia que o podíamos afirmar apenas que a crise seria de dimensões assustadoras, mas que viria certamente (como veio). Hoje, incrivelmente ainda temos membros da equipe econômica do governo tentando minimizar os reais efeitos da crise no país, postergando decisões que perdem capacidade de mitigação de danos na direta proporção de seu adiamento.
Entretanto, é importante dizer que a única afirmação que podemos fazer no momento é que o sistema financeiro internacional está quebrado. Segundo a Bloomberg, a soma do valor de mercado dos dez maiores bancos do mundo, caiu 52,3% de 2007 para 2009. Há ainda uma nítida migração de poder. Em 2007 os três maiores bancos do mundo eram: o Citi (EUA); o Bank of América (EUA) e o HSBC (Inglaterra). Em 2009 temos: o ICBC (China); o CCB (China) e o Bank of China.
Grandes competidores como Rússia e Índia começam a apresentar sinais claros de despreparo para os tempos atuais. A Rússia vem rompendo de forma preocupante, sucessivos contratos comerciais e a Índia apresenta falta de consistência em sua governança corporativa com exposição de escândalos contábeis em grandes grupos locais.
As reais repercussões da quebra do sistema financeiro internacional sobre a economia real, embora óbvias, não podem ser facilmente dimensionadas. Dependem de uma série de circunstâncias, entre elas a capacidade de resposta de cada mercado nacional. Essa capacidade de resposta envolve a velocidade e a eficácia na implementação de planos de recuperação - no que temos sido pródigos em ineficiência. A morosidade com que nossas autoridades tomam decisões é preocupante!
As autoridades têm se referido à essa crise como sendo apenas uma marola. Mas, vamos avaliar alguns dados:
• O recuo na produção em 25 de 27 setores pesquisados pelo IBGE aliada à queda geral de 12,4% na produção industrial nacional deixa claro o cenário que se configura para o Brasil – a marola está enchendo!
• Ainda segundo o IBGE, o superávit da Balança Comercial, que expressa o saldo do comércio internacional, apresentou o pior resultado desde 2002 com queda de 38,2% – a marola está crescendo!
• As contas do Governo Central apresentaram déficit primário, isto é antes do pagamento dos juros da dívida, de R$ 20 bilhões, sendo este o pior resultado desde 1997 (Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional) – e a marola...
• O nível de emprego na construção civil, setor que tipifica o nível de empregos nacional, caiu 4% em dezembro de 2008 (fonte: SindusCon-SP) – já virou onda não é?
A jurássica CLT, a inexplicável taxa de juros, a ignóbil carga tributária e o absurdo estado da infra-estrutura são figurinhas carimbadas em qualquer discussão sobre as condições de competitividade da economia brasileira.
Entretanto, não podemos simplesmente culpar os congressistas de uma nação por sua falta de resultados nas mudanças legislativas, pois os mesmos são conseqüência direta do nível de exigência de seu próprio povo. Não é verdade?
Como diz o livro dos livros, há tempo para tudo e o momento agora é de muito trabalho e despojamento – pede por uma gestão pública e privada em moldes espartanos.
Já dizia o velho filósofo italiano, mestre da política, Nicolas Maquiavel (1469-1527), que o político devia aproveitar os momentos de alto grau de credibilidade e confiança em seu mandato (alto capital político) para tomar todas as medidas duras de seu governo. Então essa é a hora dos novos Prefeitos, e o próprio Presidente arrancarem os esparadrapos de uma só vez. Façam a necessária limpeza enquanto sua imagem suporta e colham os louros da eficiência fazendo o que melhor sabem fazer – gestão de interesses conflituosos.
Infelizmente, diante da situação atual, projetar cenários é leviandade. O melhor que podemos fazer agora e continuar alertando para tempos difíceis e orientando para a busca de um bom planejamento de caixa.
As velhas fórmulas não funcionam mais. A relação com o passado foi rompida por uma crise que pode ser transformada em oportunidade. A essencial vontade política terá que ser gerada por uma sociedade com alto nível de exigência e com baixo grau de tolerância. A mídia pode e deve exercer papel estratégico na medida em que evolua de mera divulgadora de fatos sensacionais, para acompanhadora de questões de relevância regional e nacional.

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