22 setembro 2008

ESSA CRISE JÁ FALA PORTUGUÊS

A definição técnica para risco pode ser simplificada como incerteza. Assim, o risco de um investimento é diretamente proporcional ao tamanho da incerteza quantos aos ganhos/perdas envolvidos. Não me lembro de momento recente tão incerto como o que vivemos agora. A crise atual explodiu há pouco mais de um ano e na época escrevi em artigo sobre essa mesma crise que aquilo era apenas a ponta do iceberg. Referia-me ao total desconhecimento geral do verdadeiro tamanho das ameaças que nos rondavam. Assim como na analogia aos icebergs em que não vislumbramos todo seu tamanho, aqui também, vemos apenas o que aflora nos boletins de notícias.
Devemos tomar alguns cuidados nesse momento. Em primeiro lugar, ignorar os profetas de plantão que afirmarão que vai acontecer isso ou aquilo. É chute! O cidadão está buscando seus dez minutos de fama e quer ser entrevistado pelo Jô. Caso acerte, é claro!
NINGUÉM sabe o verdadeiro tamanho do buraco! Como é possível qualquer afirmação sobre o resultado de uma equação que tem mais varáveis desconhecidas do que estrelas no céu? É chute!
Ou seja, afirmações de que nosso sistema está blindado, ou que seus fundamentos são sólidos e passarão pela crise com galhardia, são apenas questões de ofício de uma ou outra autoridade que não pode mesmo dizer o contrário.
Todos sabem que as instituições financeiras não funcionam de forma isolada. Bancos, seguradoras, corretoras e outras instituições financeiras, não são apenas empresas privadas, mas agentes intermediários que pegam dinheiro de pessoas e empresas que estão superavitárias e emprestam a outras pessoas e empresas deficitárias. Essas instituições se relacionam entre si. Em outras palavras, tomam e emprestam dinheiro umas às outras. Caso uma instituição do sistema quebre, deixa de honrar seus compromissos com pessoas, empresas e outras instituições financeiras, afetando assim todo o sistema financeiro. Tal fato gera uma Crise de Confiança.
Como já dissemos muitas vezes, o capital é um animal arisco e covarde e, portanto, além de não ter a menor preocupação com seu legado, não cria raízes. Dessa forma, ao menor sinal de perigo bate em retirada. A atual crise de confiança faz com que esse capital especulativo, que operava na Bolsa, por exemplo, venda seus papéis (a Bolsa cai), pega seus dólares e vai embora (o dólar sobe). Avesso ao risco parte para ativos mais seguros com menor taxa de incerteza e compra títulos do Tesouro Americano (Treasury Bills), que são os ativos de menor risco do mundo, balizando os riscos de outros países.
Os sinais estão aí, não podemos fazer como o comandante do Titanic, que recebeu diversos avisos de que havia icebergs em sua rota e não só não mudou o curso como manteve a velocidade máxima. O resultado de tamanha obstinação todos sabe.
Em seu artigo "Transmission of Liquidity Shocks: Evidence from the 2007 Subprime Crisis" o economista da Universidade de Oxford, Nathaniel Frank juntamente com os economistas Heiko Hesse e Brenda Gonzáles-Hermosilli, ambos do FMI, analisam o modo como a crise espalhou-se tão rapidamente entre os mercados. Consideram que a grande inovação e integração dos mercados financeiros internacionais tiveram o mesmo efeito que a proximidade e interação com uma pessoa gripada pode ter sobre nossa saúde – contaminação rápida. Apontam ainda para fortes evidências de uma quebra estrutural. Isso baseado na averiguação de que parte do capital envolvido na crise do mercado imobiliário veio de outras partes do mundo e não apenas de instituições norte-americanas.
Pergunta-se então nos grandes centros de inteligência econômica mundial, se instituições centenárias que resistiram à década de trinta, como as remanescentes Goldman Sachs e Morgan Stanley, terão que remodelar sua estrutura de captação associando-se a grandes bancos comerciais. Estima-se em US$558 bilhões o montante de títulos a vencer nos próximos quatro meses em poder de grandes bancos americanos e europeus. O que reforça nosso entendimento de que outros canais de captação terão que ser aberto por essas instituições. Esse valor nos leva a acreditar ainda que as nuvens negras que pairam no horizonte somente poderão ser dissipadas com forte intervenção dos Bancos Centrais.
A Bolsa caiu, o que faço, vendo minhas ações? Não. Mas, está todo mundo vendendo, é por isso que está caindo...!!! Pense bem. Se estão vendendo, alguém está comprando! Quem, um bobo, um desavisado? Claro que não! Ao considerar o mercado de ações como investimento você deve avaliar duas coisas. Primeiro você está se tornando sócio de uma empresa. Segundo, não coloque o dinheiro da feira nisso. Apenas invista aquilo que não lhe fará falta no curto/médio prazo. Assim, fica fácil de entender o cidadão que está comprando agora. Ele está se tornando sócio de grandes empresas com um investimento menor do que o previsto inicialmente, uma vez que a ação está desvalorizada. Como se trata de dinheiro que ele não vai precisar agora pode esperar tranquilamente que as ações retomem o seu valor real mais para frente. Pois, se a empresa é sólida isso vai ocorrer cedo ou tarde.
Então, vai haver quebradeira, pânico, correria? Não sei e como disse antes, NINGUÉM sabe! O que sei é que há grande incerteza e, portanto o risco existe. Assim, não é prudente manter a rota e a velocidade como se nada estivesse acontecendo.
Como diz um antigo ditado: "Se há sangue nas ruas, compre ativos". Se nada acontecer, você terá mais alguns ativos para gerar riqueza. Bons negócios!

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